28 de jun. de 2005

Confronto de Números

Comparação de 100 indicadores vê diferenças entre governos Lula e FHC
Por Maurício Dias

O governo Lula é melhor do que o governo de Fernando Henrique Cardoso? Parece que sim, para 48% da população brasileira, conforme mostrou o Ibope divulgado em 17 de junho. A série histórica da pesquisa – encomendada desde setembro de 2003 pela Confederação Nacional da Indústria – indica que esse resultado positivo não é uma situação ocasional registrada agora, quando Lula atravessa, por sinal, uma tormenta política. A vantagem do governo petista sobre o tucano tem sido freqüente. Já foi maior (55% em setembro de 2003) e menor do que agora (em junho de 2004 baixou para 42%).

Política econômica
Os juros altos prejudicam o desempenho do governo petista na cesta de índices pesquisados
Seria essa uma percepção positiva advinda de falsos milagres atribuídos aos marqueteiros? Afinal, Lula tem usado bastante a publicidade para anunciar alguns de seus feitos administrativos. Parece que não, a julgar pela comparação de 100 indicadores de desempenho governamental medidos nos dois primeiros anos dos dois governos. Nesse confronto direto – Lula vs. FHC – a vitória do petista sobre o tucano é incontestável. Assim, os números sustentam o retrato feito pelas pesquisas.

“Nos 100 indicadores de desempenho, os dois primeiros anos do governo Lula bateram os do primeiro biênio FHC em 56 deles, contra 44 médias de FHC superiores às de Lula”, afirma o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, em texto publicado na revista Insight Inteligência, que, por mala direta, circulará a partir da terça-feira 28 para um seleto número de autoridades, políticos e intelectuais.

O objetivo de Wanderley Guilherme dos Santos é o de oferecer um cardápio capaz de atiçar um debate que vá além das suposições feitas até agora. Estabelecida a comparação entre as variações dos dois primeiros anos do governo Lula – a fase que já possui séries completas – com as variações dos dois anos do primeiro e do segundo mandato de FHC, surge o governo que apresenta os melhores resultados. A consolidação dos indicadores em três categorias – “economia”, “produção” e “social” – pode ser o começo de uma reflexão sobre “qual tem sido o melhor governo”. Não havia, até então, um conjunto de informações tão grande como o que foi reunido por ele. Os números permitirão um julgamento mais consistente dos dois governos. Um que já acabou (FHC) e outro ainda em andamento.

Para Wanderley Guilherme, o resultado tira o argumento martelado pelas vozes de oposição: “É falsa a propaganda de que a gestão do atual governo inexiste ou é inepta”, disse ele a CartaCapital.

Wanderley Guilherme não entra na avaliação das políticas executadas, que, em alguns casos, são iguais ou bastante próximas. Ele convoca os “sérios investigadores” a imaginar e a pesquisar as razões pelas quais “o desempenho do primeiro biênio do governo Luiz Inácio Lula da Silva foi largamente superior ao desempenho dos dois mandatos da era FHC nos dois biênios considerados”.

Os resultados da pesquisa Ibope guardam uma relação expressiva com os indicadores. No ranking do instituto, a sondagem de junho mostra que o governo tem maus resultados no capítulo do “combate ao desemprego”. Para o Ibope, “as menções a esse tema, que chegaram a 17% em março, a melhor posição no ranking desde o início do governo, recuaram para 13%”. Há um crescimento na desaprovação quanto ao combate ao desemprego. Ou seja, uma condenação implícita à política de juros altos, considerada pelos especialistas como o principal entrave ao “espetáculo do crescimento”.

Isso está refletido na planilha dos indicadores sociais e pesa contra Lula. A pesquisa confronta indicadores de todo tipo, desde dados de desemprego e concessão de crédito até mesmo consumo de carne. Na rubrica “desemprego aberto”, o governo de Fernando Henrique supera o de Lula nos dois biênios. FHC ganha também no consumo de carne e há um empate no indicador “Operações de crédito do sistema financeiro – Habitação”, considerada a média dos três biênios. O governo tucano foi melhor, igualmente, na manutenção do salário mínimo real.

O governo Lula tem nítida vantagem sobre o “salário real médio – indústria”, no preço do pão francês e no preço do botijão de gás. Assim como vence, na média dos biênios, em relação ao número de famílias assentadas e no custo da cesta básica. Ao final, consideradas as 16 rubricas sociais da planilha, o governo Lula supera o de FHC por 10 a 6 (quadro Melhores Indicadores por Gestão – consolidado).



Na categoria “economia” – em cima de uma política herdada de FHC –, a administração Lula é melhor na balança comercial, em bens de capital, na contribuição da formação bruta de capital fixo para as riquezas do País (o Produto Interno Bruto, PIB). O governo do PT leva vantagem sobre o do PSDB na diminuição da dívida interna e, por conseqüência, na relação da dívida líquida com o PIB. É melhor, na média, o desempenho de Lula na redução da dívida externa. Os tucanos estão melhores na arrecadação de IPI. Lula vence na diminuição dos índices de inflação.

No capítulo da “produção”, a taxa de juros de longo prazo (TJLP) favorece Fernando Henrique Cardoso. Mas a Taxa Selic favorece o petista. O governo FHC foi melhor na “produção física – bebidas” e nas vendas de máquinas agrícolas. Lula ganha na produção de caminhões e em “máquinas e equipamentos”.

No confronto dos dois primeiros anos de Lula com os dois primeiros do segundo biênio de FHC, a vantagem de Lula aumenta para 59 resultados favoráveis, em 100, contra 40 de FHC, sobrando um empate, analisa Wanderley Guilherme. Na média geral, segundo ele, o desempenho dos dois primeiros anos de Lula é superior ao dos dois mandatos de FHC em 64 dos 100 indicadores comparados.

Há duas semanas, em entrevista a CartaCapital , Wanderley Guilherme dos Santos denunciou a possibilidade de um “golpe branco”, pretendido por adversários de Lula, e que seria apoiado pelos tucanos, em particular. Hoje, o cientista político revê parte de sua posição – acha que o ímpeto golpista foi amainado –, mas não deixa de fazer blague, ao considerar o resultado comparativo dos números, a popularidade que Lula ainda mantém e a eleição presidencial de 2006: “Esses números explicam as razões do golpe”.

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