16 de jun. de 2005

Veritas

Arquivo X do Golpe
por Bruno de Assis Pessoa - brap@uol.com.br
Como PSDB, Veja & CIA articulam segundo golpe de estado em sete anos. Uma história de assassinatos, corrupção, abuso de menores e roubo.

Como ocorre ciclicamente, inicia-se a fase final de mais um golpe de Estado na América Latina, desta vez destinado a depor o presidente Luís Inácio Lula da Silva, legitimamente eleito pelo povo brasileiro. A exemplo do que ocorreu no Chile, em 1973, os neoliberais da elite pseudo-intelectual, os donos de latifúndios, os empresários da "imprensa" falida e os serviços de inteligência norte-americanos, preparam a derrubada do ex-metalúrgico Lula.

Os métodos do golpe, entretanto, se sofisticaram. Se Allende foi assassinado por projéteis de fogo, Lula está sendo envenenado por uma bem estudada campanha de desqualificação. Curiosamente, os "crimes" que lhe são atribuídos constituem-se em práticas criadas e mantidas por seus próprios inimigos. O grupo de ataque ao governo foi apelidado de Grupo Rio. Não se trata de uma homenagem ao Estado, mas de uma referência à Rua Rio de Janeiro, em Higienópolis, residência do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O luxuoso e requintado apartamento foi palco das primeiras reuniões que traçaram a estratégia para o golpe de Estado. Na primeira assembléia, reuniram-se 13 pessoas. Na segunda, foram 19, incluindo um norte-americano que chegou num carro do consulado dos EUA em São Paulo. Depois do encontro, vários seguiram para uma casa de prazeres eróticos na Avenida Bandeirantes, nas imediações do aeroporto de Congonhas.

Em Português trôpego, o tal "gringo" teria falado mais sobre o presidente venezuelano Chavez do que sobre o plano para apear Lula do poder. A frase paradigmática de FHC neste dia teria sido: "É preciso paciência para desequilibrar, aos poucos; arrancar cada dedinho do pé do sátiro". Alguns bateram palmas para aplaudir a frase mal construída, mas que definia o projeto de ação do grupo, que FHC (pretendendo-se galhofeiro) preferiu chamar de "célula Sorbonne". Aliás, quando regado a bom vinho, o ex-presidente adora atribuir apelidos a seus desafetos: José Sarney é o "Morsa", Itamar é o "Costinha" e Ciro Gomes é o "Parasita".

Decidiu-se que tanques e canhões seriam substituídos por papel impresso e telas iluminadas. Poderosos senhores da comunicação foram chamados a integrar o grupo. Nessa época, o setor já vivia uma grave crise, com empresas atoladas em dívidas com bancos, à beira da insolvência. Os que não haviam se arrumado com o novo governo tinham a chance de receber polpudas contribuições de apoiadores externos. Os aliados de primeira hora foram Roberto Civita, da Editora Abril, e a chamada banda podre da família Mesquita, os descendentes de Ruy Mesquita.

O falido e o ladrão doméstico
A idéia era destacar o clã Mesquita para uma luta prévia, destinada a desacreditar a prefeita Marta Suplicy. Os jornais da casa deveriam criar "pautas" para que o resto da imprensa corroesse a popularidade da prefeita. O projeto era fincar a bandeira do Grupo Rio em São Paulo a partir da eleição de José Serra. Civita teria como incumbência fomentar uma ação nacional por meio da revista Veja. Civita e FHC mantêm antiga amizade. O grupo do ex-presidente ajudou a criar o modelo de ideologia que é propagada pela revista, uma colorida e didática cartilha neoliberal. Civita é conhecido por sua língua afiada e descontrolada. Certa vez, numa reunião com executivos do grupo, chamou Pelé de "negrinho do pastoreio". Em outra ocasião, disse que a ex-ministra Erundina era "uma gabirua que fedia a merda".

As histórias de Veja misturam roteiros de filmes sobre a Máfia com bizarrias hard-core. Durante muitos anos, o feitor de Civita em Veja foi o truculento Eduardo Oinegue Faro, uma espécie de Jason Blair brasileiro, capaz de "fazer (ou inventar) qualquer negócio", seja para vender revista ou para destruir uma personalidade pública. Exagerado em suas doses, Oinegue foi transferido para a revista Exame. Há poucos meses, o "padrinho Civita" sofreu ao saber que seu pupilo o estava roubando, exatamente conforme nos roteiros dos filmes sobre a Cosa Nostra. Oinegue Faro estava embolsando mais de um milhão de Reais em negócios inescrupulosos com um lobista. Triste fim para uma história de confiança na "famiglia".

O jornalista que tinha um "pepino" a resolver
O redator-chefe de Veja é outro protagonista de casos escabrosos. Depressivo crônico, tem fixação doentia pelo tema solidão. Vítima de impulsos suicidas, julga-se inferior e não devidamente reconhecido. Parte de sua conduta patológica gerou um livro interessante e revelador: o Antinarciso. Certa manhã, a secretária de Veja recebeu um telefonema insólito de Sabino, que estava num hotel fubango no centro de São Paulo. A dedicada funcionária teve de se desdobrar para encontrar um proctologista do hospital Albert Einstein. Foram três horas de angústia até que o especialista chegasse ao quarto 62. Quem quiser, pode checar. Mais uma eternidade até que o enorme pepino pudesse ser extraído do reto do jornalista.

Assassino pago em ouro
No caso do Grupo Estado, é de se admirar que a família tenha recorrido aos serviços de consultoria de um ex-funcionário para desenvolver seu plano de ação. O escolhido foi Antonio Marcos Pimenta Neves, ex-chefão do jornal O Estado, amante rejeitado que, em 2000, assassinou na ex-namorada, a também jornalista Sandra Gomide. Por quê? Porque Pimenta Neves sempre manteve uma relação de amizade com Fernando Henrique Cardoso. Aliás, o crime aconteceu exatamente em Ibiúna, município a 70 quilômetros de São Paulo, onde o ex-presidente tem uma de suas casas de campo.

Violador de crianças
Entre os articuladores políticos do golpe, a liderança da tropa de choque coube ao senador amazonense Arthur Virgílio, um homem que se confessa atraído pelo submundo. Virgílio é um alegre freqüentador de bordéis e tem queda por "carnes novas". O líder do PSDB foi o carrasco da CPI da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Graças a sua dedicada (e desesperada) atuação, o vice-governador do Amazonas, Omar Aziz (PFL), escapou da Justiça.

Os relatórios da comissão mostravam que Aziz era também cliente de uma rede de prostituição envolvendo adolescentes de até 16 anos. Em Manaus, o comparsa de Virgílio participava de um esquema de aliciamento de menores com a conhecida cafetina Cris. Os depoimentos da CPI traziam o depoimento de uma mãe que comprovava a exploração sexual de sua filha de 14 anos. Na época, Virgílio tentou negar que também tivesse presenteado a menina com jóias e dinheiro.

Espancador de mulheres
No Grupo do Rio, a alta intelectualidade está representada também por José Arthur Gianotti, uma espécie de Maquiavel tupinambá, cuja função é fornecer ao amigo FHC pílulas filosóficas que previnam contra eventuais crises de consciência. Gianotti é o homem das éticas relativas, o dourador de fins que justifiquem qualquer meio ignominioso de busca do poder. Homem de estresses e ego inflado, é daqueles que não admitem refutações, características conhecidas de seus "colegas" de Universidade de São Paulo. Anos atrás, durante um debate com a esposa, irritou-se e a espancou. A mulher acabou perdendo parcialmente a audição de um ouvido. De suas histórias escabrosas, esta é a que mais se ouve nos corredores da USP.

O mesmo ocorreu com os casos de suborno contidos na chamada Pasta Rosa. O então Procurador-Geral, Geraldo Brindeiro, recorreu ao jeitinho brasileiro para engavetar as denúncias. Agora, o que mais espanta foi a complacência da imprensa com a compra de votos para a mudança da Constituição que permitiu a reeleição de FHC. João Maia e Ronivon Santiago, Zila Bezerra, Osmir Lima e Chicão Brígido eram apenas a ponta do iceberg de um gigantesco sistema de corrupção gerenciado pelo PSDB. Como sempre, a imprensa diminuiu a importância dos fatos, na mesma medida em que exagera qualquer irregularidade no governo Lula.


Como comprar um jornalista a preço de banana
Em todas essas ações, a CIA deu total apoio a seus parceiros do governo tucano (o governo do Apagão), inclusive com municiamento financeiro. Jornalistas e políticos foram comprados em verdadeiras operações de guerra, numa reedição das PP e Kukage, nas quais as ações jamais são atribuídas ao governo norte-americano, mas a outros grupos ou instituições. Muitas dessas ações são tão escancaradas que não exigem qualquer sigilo, conforme admite o ex-chefe do FBI no Brasil, Carlos Costa, em suas entrevistas a Carta Capital. As sedes do poder, em Brasília, estão grampeadas e os Estados Unidos monitoram o Brasil 24 por dia.

Um bilhete deixado na mesa de reunião do Grupo Rio estampava uma lista de formadores de opinião que deveriam ser convencidos a receber "suporte" do grupo externo. Alguns dos 31 (sobre) nomes eram: Rodrigues, Noblat, Gancia, Carmo, Fibe, Nunes, Alencar, Casoy, Marques, Schwartsman e Cony. A base para as ações de flerte seriam fornecidas pelos senhores Mac-Laughlin , Wilkinson e Rohter.


A farsa de Maurício Marinho
Nem o mais ingênuo dos corruptos recebe pagamentos em sua sala de trabalho, em bolos semelhantes àqueles manuseados por donos de postos de gasolina. Maurício Marinho, que é esperto demais, vendeu-se como ator e não como facilitador. Afinal, a "bola" é pequena demais para quem corre tanto risco.

Depois que a poeira baixar, MM certamente vai desfrutar de seu verdadeiro butim. Quem vê a fita com atenção, percebe que os atores estão mal treinados.


Assassinato de Luis Eduardo Magalhães: o primeiro golpe de Estado do Grupo Rio – 1998
O Grupo Rio não estava oficialmente constituído naquela época, mas seu núcleo duro já existia. À época, estava morrendo o velho "Serjão", gerente de todo o sistema de corrupção e coleta de propinas do PSDB. Simultaneamente, uma nova estrela despontava no firmamento político: Luís Eduardo Magalhães. Segundo os analistas do governo, LEM tendia a se tornar um candidato imbatível nas eleições presidenciais. Além disso, o deputado confessara a amigos que no momento certo desbarataria a quadrilha que disseminava a corrupção por Brasília.

Morto "Serjão", temeu-se que LEM desencadeasse uma pronta ação de limpeza no legislativo. Nesse momento, a articulação entre o governo e seus parceiros externos mostrou-se eficaz. A "inoculação" teria ocorrido, morbidamente, durante os serviços fúnebres do corruptor-mor. Os requintes da operação incluíram a prescrição de uma dose que permitisse a morte num 21 de Abril. A sofisticação simbólica tinha um motivo: uma assinatura sinistra. O serviço de assassinato encomendado a Newton Cruz por Maluf, em 1985, fora repassado a outro grupo. Tancredo Neves, assassinado, viria a morrer também num 21 de abril.

Opinião
"No governo tucano, a denúncia do mensalão não teria provocado grandes marés". O fantasma dos militares não existe, mas nas últimas colunas que escreve para o jornal Valor Econômico, publicadas às quintas-feiras, ele farejou um "golpe branco" contra Lula no movimento da oposição e, principalmente, do PSDB. Pró-reitor da Universidade Candido Mendes, Wanderley Guilherme dos Santos chegou a ironizar os tucanos, resgatando a imagem de Carlos Lacerda, um político que andava sempre com uma proposta de golpe na cabeça: "O lacerdismo mudou-se para São Paulo", escreveu, após pensar sobre a frase do ex-presidente Fernando Henrique de que havia uma "crise institucional" no País.

Nesta entrevista a CartaCapital, ele explica a crise pela missão político-eleitoral dos tucanos de algemar o governo para enfraquecer a candidatura Lula em 2006. Diz que, para alcançar esse objetivo, o PSDB chegou a pensar em um "golpe branco", o impeachment, a partir das denúncias de corrupção. Mas recuou. Acredita que o partido não promoverá a iniciativa, mas, se ela surgir, apoiará. Ou seja, se o cavalo passar arriado, o ex-presidente Fernando Henrique montaria. CartaCapital: Há uma crise política grave neste momento? Wanderley Guilherme dos Santos: A palavra crise entrou no vocabulário diário da política desde janeiro de 2003. Falou-se de crise todos os dias. Agora, sim, há uma crise política. É uma crise importante. Mas é uma crise normal em sistemas democráticos funcionando, operando. Quer dizer, democracia com uma oposição musculosa como não havia, por exemplo, no governo Fernando Henrique. (leia o post abaixo com a entrevista completa de Wanderley Guilherme dos Santos)

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