9 de nov. de 2006

Punição ao Emir Sader

Tenebroso. Nada mais a dizer a respeito da condenação do professor Emir Sader pelo juiz Rodrigo César Muller Valente do que isso.

Que tempo são esses em que repórteres são chamados depor na Polícia Federal, dizem que foram pressionados e toda a grande mídia faz alarde. E um professor escreve palavras duras [bem contudentes] sobre uma pessoa conhecidamente como de difícil trato. O Emir está respondendo pelo que escreveu por que assumiu o ônus de tê-lo escrito. Enquanto o Senador Bornhausen nega que tenha usado a palavra 'raça' ao se referir aos petistas como desrespeitosa.

O pior é que na setença do juiz (na verdade, juiz-auxiliar) avaliou que Sader cometeu crime ao tratar Bornhausen como "racista". Ora, a frase do senador não queria dizer outra coisa.
“Desencantado? Pelo contrário. Estou é encantado, porque estaremos livres dessa raça pelos próximos 30 anos”.
Então, diante desta frase que causou estupefação em todos moralmente íntegros, vem a resposta do mesmo sobre a, agora, desdita.
“Quanto a ter usado a palavra ‘raça’ – não como designação preconceituosa de etnia, ideologia, religião, caracteres, mas como camarilha, quadrilha, grupo localizado –, tão logo alguns falsos intelectuais surgiram, incriminando-me, apareceram preciosos testemunhos a meu favor. Confesso que falei "dessa raça" espontaneamente, sem premeditação, usando meu modesto universo vocabular, a linguagem coloquial brasileira com que me expresso, embora meus adversários tentem me isolar numa aristocracia fantasiosa”.
Pois bem, está é a diferença, o Emir escreveu e por ser um professor reconhece o valor de um documento por ele escrito ou de uma frase proferida. Já o senador, do alto de seu conhecimento do parlamento brasileiro sabe que a frase dita hoje pode ser desmentida sem maiores contratempos. Principalmente se a grande mídia lhe for favorável.

S evocê é daqueles que não concordam com esta setença absurda, clique neste link e assine uma petição movida contra esta arbitrariedade . EU, ao assinar, fui o nº 9149.

Saiba mais:

Leia o artigo do professor que o levou à condenação

11 de out. de 2006

Os porquês

Dizem que religião e politica não se discute... Só que, mesmo correndo o
risco de perder alguns amigos, me reservo o direito de discordar da segunda
parte ;-)

Enton... Antes que essa eleição termine sem ninguem ter falado nada...

Votei no lula em 2002. Tenho que confessar que foi muito bom eleger um presidente pela primeira vez.... O governo começou com seus erros e acertos e estava indo de forma digamos "estável" (nada surpreendente, mas também nada desastroso) até 2005... Até que a chamada crise política mudou tudo, foi derrubando um por um das grandes figuras do PT.... Quem disser que não se decepcionou ou é porque votou no Serra (minoria) ou está mentindo.

Agora temos uma eleição de novo que, com apenas dois candidatos ditos "principais", vira quase que um plebiscito. Representando o governo petista e o Lula: o próprio. Representando o governo tucano e FHC: Alckmin. A comparação é inevitavél e, mais do que isso, sabemos que a turma do governo FHC tá toda ai de volta (coordenando a campanha, fazendo o programa de governo, etc)

Acho que vale a pena lembrar alguns fatos, fazer uma reflexão e colocar as informações nas suas devidas proporções...

O governo Lula foi bom para os banqueiros e os pobres? Com certeza foi. Muito melhor que o FHC que foi bom APENAS para os banqueiros! Não estou inventando isso não, vamos aos fatos... Lembrem que o Banco Central vendeu dolar mais barato ao banco do Cacciola (que fugiu pra Italia pra não ser preso) causando só ai uma perda de R$ 1,6 bilhão:

http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u20042.shtml

Na boa, 1.6 bi é muita grana. Antes disso, com o socorro aos bancos (o PROER) o governo já teria gasto 12% do PIB segundo economistas da Cepal:

http://www.senado.gov.br/sf/noticia/senamidia/historico/1999/11/zn112613.htm


Tudo bem, mesmo sem ajuda direta, os bancos continuam tendo lucros extraordinários com o Lula... Até ai empate, talvez?

Então começam as diferenças: o governo Lula termina sem ter QUEBRADO o país para se reeleger. O PSDB adora falar que inventou a lei de responsabilidade fiscal, mas infelizmente devemos admitir: o troféu da irresponsabilidade fiscal também pertence ao governo FHC.

De saída compra-se uns deputados pra votar pela reeleição. Ronivon Santiago, recentemente preso com os sanguessugas, confessa que embolsou 200 mil pelo seu voto:

http://www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/pre_mer_voto_1.htm

Mas comprar deputados não foi nada, isso o PT também fez. Todo mundo ficou sabendo do mensalão, devezenquandão... Seria outro empate?

Só que foi muito pior, mas foi MUITO pior e mais danoso ao país o que eles fizeram pra terminar de reeleger FHC em 98. A formula é simples: manter o real super-valorizado até a eleição. Com o real super- valorizado os importados ficam baratinhos, segura-se a inflação, todo mundo fica feliz de poder viajar, comprar eletro-eletrônicos e etc. O problema é que as contas externas do país não fecham... Dane-se o país! O que importa é a reeleição, não é? Pra refrescar a memória: logo após a eleição, em janeiro de 99, o dolar disparou de R$ 1,21 para R$ 2,06.

http://www.dieese.org.br/esp/cambio/cambio.xml

É lógico que a dívida pública explodiu de 98 para 99, passando de 37,8% do PIB para 50,4%. No final de FHC-2, em 2002, chegou a 57,3%:

http://www.dieese.org.br/notatecnica/notatecDividapublica.pdf

Então voltamos a agosto de 2006 para comparar: nesse final de governo a dívida pública está em 50,3% do PIB. Ou seja, a dívida do governo é praticamente estável no governo Lula, com pequena redução em termos relativos (absolutamente cresceu).

http://www.estadao.com.br/ultimas/economia/noticias/2006/ago/24/184.htm


É claro que o arrocho da equipe econômica é uma merda...

O tão falado "superavit primário" é um eufemismo, não há, necessariamente, superavit algum. E isso impede que o governo faça mais investimentos... Afinal qualquer coisa é melhor do que ficar pagando juros de uma dívida.

Só que essa dívida não surgiu agora, do nada. Não sei se existe outra forma de administrar isso, mas se a gente jogar pelas regras do jogo, não tem como deixar de pagar. A conta é simples: a dívida tá em torno de um trilhão de reais... Quanto é que a gente recebe pelo dinheiro que tá investido na renda fixa? Digamos 13% no Itaú? Então não tem mágica, esse dinheiro vem dos títulos públicos, vem do governo. Fazendo um chute por baixo dá 130 bilhões por ano. É muito dinheiro que poderia estar sendo melhor utilizado!

Fernando Henrique Cardoso foi IRRESPONSÁVEL, foi CRIMINOSO. Manter a inflação baixa, falindo o país desse jeito é mole. Eu lembro de ter visto FHC na televisão falando explicitamente que as privatizações seriam usadas para reduzir a dívida, é só procurar os arquivos da época:

http://www.radiobras.gov.br/anteriores/1997/sinopses_1707.htm

http://www.radiobras.gov.br/integras/98/integra_3006_2.htm

Parece até piada, vendeu-se tudo e a dívida TRIPLICOU!

Bom, por falar em privatizações... Apenas um caso pra entender o nível da zona: Luiz Carlos Mendonça de Barros (na época ministro das comunicações, atual consultor econômico do Alckmin) conversa com André Lara Resende (na época presidente do BNDES) como seria montada uma operação, um "esquema", para favorecer o Opportunity do Daniel Dantas no leilão da Telebras. Até FHC foi chamado para interferir e convencer os fundos de pensão a participarem. As conversas foram gravadas e vazaram para a imprensa:

http://www.cartacapital.com.br/index.php?funcao=exibirMateria&id_materia=1390


Ok. Falar mal de FHC é facil... Quero ver falar bem do Lula.

Queiram vocês ou não, 94% das crianças no bolsa-familia fazem três refeições por dia. Na pesquisa realizada pela UFF, a qualidade da alimentação melhorou para 85% das familias do programa.

http://www.radiobras.gov.br/abrn/brasilagora/materia.phtml?materia=267419

http://www.universia.com.br/html/noticia/noticia_clipping_dbdji.html

Antes que alguém diga que o bolsa familia é roubalheira, que o governo paga pra quem não é pobre e tal, é bom saber que no site Transparência (criado no governo Lula) é possível ir em cada cidade e ver o nome e o CPF de cada pessoa que recebe o benefício. Pode ser 30 reais que seja, tá tudo lá. Se souber de algo errado, denuncie!!

http://www.transparencia.gov.br

Além disso o site tem todos os pagamentos do governo... Acho que pode até procurar pelo CNPJ da empresa do Duda Mendonça ou do Marcos Valerio pra ver quanto foi pago em publicidade (ou seria "publicidade" entre aspas?) ...

O governo já construiu 152.400 cisternas no semi-árido com o programa Fome Zero. São 152 mil famílias que deixam de depender daquela "ajuda" de caminhão-pipa de político em época de eleição, é um ciclo de dependência que se quebra. É um projeto simples e eficiente, sem medidas mirabolantes: A água da chuva é recolhida do telhado da casa, filtrada e guardada numa cisterna semi-enterrada de onde ela pode ser consumida durante vários meses. Outro impacto é na saúde. Uma comunidade da Bahia acusou 100% de habitantes com verminose antes da construção de cisternas, depois, caiu para 7%:

http://www.febraban.org.br/Arquivo/Destaques/destaque-fomezero_cistermas.asp

http://www.fomezero.gov.br/noticias/patrus-programas-sociais-sustentam

Num filme recente do Eduardo Coutinho que eu vi (que não tem nada a ver com o governo) , eles por acaso chegavam pra filmar numa casa que fazia parte do programa... A mulher achou que era o pessoal das cisternas que estava indo inspecionar e só ai me toquei dos tubos de pvc saindo do telhado...

Em todos buracos que viajei nos últimos anos, no confins do Vale do Jequitinhonha e no interiorzão da Bahia, em todo lugar eu vejo a placa do programa Luz para Todos. Na placa tem sempre escrito o nome da comunidade, geralmente são lugares bem pobres (pense bem: não ter energia elétrica em 2006 é quase medieval). Não sei quais são os números do programa, mas que ele existe e certamente está garantindo mais uns votos pro Lula isso tá...

E a Polícia Federal? Tá pegando corrupto e pilantra aos montes... Também não tem mágica: É só dar recursos, permitir a contratação de pessoal e deixar os caras trabalharem. Lembrando um exemplo de como a PF funcionava nos tempos de FHC: em 95 ao saber que estava sendo investigado pela PF, ACM ligou para o diretor geral Wilson Romão e ameaçou usar polícia civil para prender o delegado federal Roberto Chagas Monteiro. Resultado: as investigações foram
suspensas e o delegado foi mandando para a Argentina!

http://www.zaz.com.br/istoe/1634/politica/1634_memorias_trevas5.htm

Li uma entrevista do Paulo Lacerda (diretor da PF) há uns 2 anos dizendo que o que ele fazia era colocar equipes de um estado pra pegar os bandidos de outro estado... Aí o que vale é a lei... Não tem aquele amigo que conhece um delegado da PF disposto a "dar um jeitinho"...

Enquanto em 8 anos de FHC foram menos de 100 operações, em 4 anos de Lula já são 280! A cada investigação descobre-se mais material para futuras investigações... Eles dizem que já têm material para mais 5 anos de operações...

Depois da investigação vem o inquérito. Enquanto o procurador geral escolhido por FHC ficou marcado pelo incômodo apelido de "engavetador geral" (Geraldo Brindeiro arquivava ou simplesmente "esquecia" todas as denuncias contra o governo), Lula escolheu sempre o candidato indicado pelos membros do ministério público, primeiro Cláudio Fonteles e depois Antonio Fernando de Souza.

http://www.terra.com.br/istoedinheiro/411/financas/dono_poder.htm

E ainda tem gente que diz que o governo Lula é "o mais corrupto da história"... Sob que métrica?

A CPI do Collor concluiu que 10,6 milhões foram usados diretamente para pagar despesas pessoais do presidente, de um total de 260 milhões.

http://www.cartacapital.com.br/index.php?funcao=exibirMateria&id_materia=2926

A Controladoria Geral da União mostrou que a maior parte das liberações de dinheiro para a máfia dos sanguessugas foram feitas no último ano do governo FHC e que os valores cairam no governo Lula.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u80751.shtml

Enquanto isso, o Engavetador Geral engavetou 242 inquéritos e arquivou outros 217 envolvendo deputados, senadores, ministros, ex-ministros e o próprio FHC. E o Alckmin conseguiu barrar a abertura de todos os 69 pedidos de CPI protocolados na atual legislatura da Assembléia de SP:

http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=10511

A questão é que muita gente ainda tem preconceito com o presidente ex-metalúrgico... O "sapo barbudo", como dizia o Brizola em 89. Imagina se um senador da república iria subir na tribuna pra ameaçar dar uma surra no presidente se fosse o FHC?? Pois é, o senador Arthur Virgilio, atual paladino anti-caixa 2 (mas que no passado confessou ter feito uso do recurso em entrevista ao Jornal do Brasil) fez isso.

Enfim... Votar em Alckmin nem pensar. Pode parecer que os candidatos têm propostas parecidas e são a mesma coisa, mas na boa... Não são não. Os resultados estão ai, é só comparar... Balança comercial brasileira, quitação da dívida com o FMI, índice Gini de desigualdade de renda, combate ao trabalho escravo, ao trabalho infantil, ao analfabetismo...

Esses economistas do PSDB (a galerinha da Casa das Garças) estão sempre pensando nas próximas grandes negociatas, depois da farra que foram as privatizações... A próxima seria tirar o dinheiro do FAT do BNDES (que empresta a juros mais baixos para promover projetos de inovação, infraestrutura e desenvolvimento social) para colocar na mão dos bancos privados, que segundo eles obteriam taxas mais baixas pela competição... Alguém acredita em competitividade entre os bancos privados?

http://www.cartacapital.com.br/index.php?funcao=exibirMateria&id_materia=1982

Sei que os tucanos e o PFL estão loucos pra voltar... Vou votar em Lula de novo e espero que eles não atrapalhem o país pelos próximos 4 anos.

Pesquisa e texto: Miguel Freitas

Fugindo das responsabilidades





O vídeo acima foi uma reportagem realizada pela TV Australiana, intitulada “Mean Streets of São Paulo”, do canal SBS da Austrália, Programa Dateline, a respeito dos ataques do PCC e consequentemente do extermínio que se seguiu após os mesmos. Reparem na postura arrogante e prepotente do Alckmin, abandonando a reportagem no meio da entrevista. Teríamos algumas perguntas para fazer ao mesmo:

1. Por que, mostrando um constrangimento muito grande, encerrou a entrevista pela metade, e ainda reclamou que se soubesse do teor não a teria concedido? Onde está a educação, a ética? E por que não a teria concedido se soubesse do seu teor? QUEM NÃO DEVE, NÃO TEME!!!!!!!

2. Alckmin vem acusando o governo federal pelos ataques do PCC, afirmando que este não investiu em segurança pública. Por que não fez essa acusação nesta entrevista? Não seria a oportunidade de mostrar ao exterior quem é o Lula, um presidente sem-caráter, como ele afirma? Por que não tocou neste assunto? Esquecimento?

3. Alckmin não sabia de nada?????....quis jogar a responsabilidade para o governo do estado, o qual havia deixado um mês antes? Mas que cara safado!!!! Como a própria repórter disse, ele estava há 12 anos no governo do estado, 6 anos como vice e 6 anos com governador E NÃO SABIA DE NADA? Não soube que o PCC fez uma mega-rebelião em 2001? Que promoveu ataques em 2003 e final de 2005, todos durante o seu governo? NÃO SABIA DE NADA????? AONDE O SENHOR ESTEVE DURANTE TODO ESSE TEMPO????

Fonte: http://ptlhando.blogspot.com/

COMEÇA CAIR A FARSA DO DOSSIÊ

http://gmc.globo.com/GMC/1,,2465-p-M556326,00.html

Moral da história começou a cair a máscara:

1- Freud é inocentado por Gedimar.

2- Gedimar nunca foi filiado do PT.

3- Gedimar diz q seu primeiro depoimento é muito mais a visão do delegado da PF sobre os fatos do que suas palavras. O delegado em questão, o mesmo que liberou as fotos do dinheiro que ele diz q foi apreendido, prometeu a Gedimar sua liberação caso ele concordasse em assinar o depoimento.

Fonte: http://ptlhando.blogspot.com/

29 de set. de 2006

GOLPE DO GRAMPO NO TSE

No Painel da Folha de São Paulo desta segunda-feira, 25/09/2006, Renata Lo Prete acrescenta dados novos à informação de ontem, sobre o grampo do TSE:

Fora do gancho 1. A Fence, que fez varredura nos telefones do TSE, teve rompido pelo então ministro Humberto Costa (sic) contrato na pasta da Saúde. Acusada de superfaturamento na gestão de Serra (sic), foi inocentada pelo TCU.

Fora do gancho 2. Dirigida por um ex-chefe de telecomunicações do SNI, a Fence foi alvo de suspeição na descoberta de R$ 1,4 milhão no cofre da Lunus, na campanha presidencial de Roseana Sarney, mas não foi comprovada a sua participação."

Seria bom se fôssemos corretamente informados sobre o contrato do TSE com a empresa Fence, se houve licitação, quanto custa ao erário uma empresa privada fazer um serviço que a Polícia Federal faz a custo mínimo...

Fence, Serra, Barjas Negri, PSDB: tudo a ver. Quer saber por quê?



14/03/2002

Saúde contrata empresa contra grampos
OTÁVIO CABRAL - da Folha de S.Paulo, em Brasília.
FERNANDA DA ESCÓSSIA - da Folha de S.Paulo, no Rio.

O Ministério da Saúde contratou serviços de contra-espionagem da Fence Consultoria Empresarial Ltda., empresa do Rio que atua com "assessoramento e segurança de comunicações em linhas telefônicas". Entre abril de 99 até ontem, foram pagos pelos serviços R$ 1,19 milhão.

Somente neste ano, o contrato prevê o pagamento de até R$ 1,87 milhão. A Fence foi contratada para "detectar a existência e desativar campos magnéticos espúrios" nas linhas telefônicas do Ministério da Saúde, conforme está previsto no contrato 18/99, firmado entre a empresa e aquela pasta em abril de 1999.

A Abin (Agência Brasileira de Inteligência, que atua como serviço secreto do governo federal) e a Polícia Federal fazem varredura de grampos quando solicitadas por órgãos públicos que suspeitam de espionagem. Segundo a Saúde, a Abin "não tem estrutura nem pessoal para realizar este tipo de trabalho", o que, para a pasta, levou à contratação de "uma empresa idônea".

Conforme a Folha apurou, a Fence, além de varreduras eletrônicas, também tem capacidade de fazer escutas telefônicas, embora a execução desse tipo de serviço seja negada tanto pela empresa quanto pelo ministério.

Pefelistas atribuem a uma operação de grampo ilícito a origem da busca e apreensão feita na empresa Lunus, em São Luís, que resultou na descoberta de R$ 1,34 milhão no cofre da empresa, supostamente destinados à campanha presidencial da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, segundo a versão de Jorge Murad, marido e sócio de Roseana.

Murad se demitiu anteontem do governo, onde ocupava o cargo de gerente de Planejamento, após assumir a responsabilidade pela arrecadação do dinheiro, cuja origem não revelou.

Atribui-se à repercussão do episódio a queda de Roseana nas pesquisas de opinião. O PSDB, em nota oficial, já negou qualquer tipo de relação com a operação feita na Lunus pela Polícia Federal.

A Fence é de propriedade do coronel da reserva do Exército Enio Fontenelle, que chefiou o setor de telecomunicações eletrônicas do extinto SNI (Serviço Nacional de Informações). Enio afirma que Serra, que deixou o ministério da Saúde em fevereiro último, sabia do contrato firmado e de toda a atuação da empresa.

O contrato do Ministério da Saúde com a Fence foi assinado sem licitação, com a estimativa de que sejam feitas pelo menos 600 varreduras por mês.

Coincidentemente, o valor do contrato aumentou substancialmente neste ano de eleição. Entre 1999 e 2001, a empresa recebia até R$ 28.406,06 mensais, valor previsto no Orçamento da União. Para 2002, o contrato foi reajustado e a empresa passou a receber até R$ 156.048 ao mês.

A contratação pelo ministério dos serviços de contra-espionagem da Fence surpreende membros do Executivo. Dois ministros do atual governo, um do PSDB e outro do PMDB, afirmaram à Folha que, no ano passado, suspeitaram que seus telefones estavam grampeados. Ambos procuraram o general Alberto Cardoso, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, que determinou que a Abin promovesse varreduras eletrônicas, sem necessidade de gastos extras para o governo.

Um ex-ministro da Justiça do governo FHC, sob condição de não ser identificado, afirmou que, quando esteve no cargo, orientou todos os funcionários de primeiro e segundo escalões a promoverem varreduras em seus telefones em busca de grampo.

O ex-ministro colocou a PF à disposição para a execução do serviço. Segundo ele, a PF tem os melhores especialistas em varredura e, por isso, não haveria necessidade de contratar empresa. Além da Saúde, a Fence foi contratada em 1999 pelo Superior Tribunal de Justiça. Para promover varreduras nos gabinetes e nas casas dos ministros, a empresa recebeu na época R$ 92.248,80.



Folha de São Paulo, 17 de março de 2002

Perigo à vista
JANIO DE FEITAS

A estrutura de distorção do processo eleitoral que está posta em ação não tem paralelo nem na campanha de Fernando Collor. Nesta, o dispositivo era composto pela mídia e por grandes empresários e suas fortunas. Era particular, portanto. Na atual, se o dispositivo particular não tem (ainda?) a mesma intensidade, há o envolvimento do poder público, com participação que excede muito o seu uso na reeleição e transgride e ameaça o Estado de Direito democrático.

Uma ou outra coincidência casual é sempre possível. Mas o acúmulo de incidências, algumas complexas e todas no mesmo sentido, só pode resultar do funcionamento articulado de uma estrutura ativada com propósitos determinados. É o que se constata com a perfeita coincidência de atos e fatos que interligam, como partes de uma mesma circunstância, certa representação do Judiciário federal, outra da Procuradoria da República, Ministério da Justiça, Polícia Federal, BNDES, Ministério da Saúde, uma empresa especializada em ("detectar") escutas telefônicas e a Presidência da República com seus fax.

Nada do que o Ministério da Saúde disse sobre a contratação da Fence Consultoria Empresarial merece crédito. Suas pretensas explicações não se conciliam nem com o que diz o próprio representante da empresa, coronel e ex-SNI Enio Fontenelle, sobre o contrato feito na gestão de José Serra na Saúde, alegadamente para vistoria de possíveis escutas clandestinas em instalações do ministério.

Atual ministro e secretário executivo do ministério ao tempo de Serra, Barjas Negri emitiu nota oficial afirmando que o valor do contrato multiplicou-se por seis, dois meses antes da mudança de ministro, porque a frequência de verificações aumentou. De mensais, passaram a semanais. O custo, para os cofres da Saúde, passou de R$ 308.670,84 por ano (média mensal de R$ 25.722,57), segundo o contrato firmado em abril de 99, para R$ 1.872.576,00 (média mensal de R$ 156.048,00), conforme o contrato assinado em 19 de dezembro de 2001.

Ao passar de verificações mensais a semanais, a lógica levaria o valor do contrato a subir quatro vezes, de R$ 308.670,84 para R$ 1.234.683,36. Há, pois, R$ 537.892,64 não explicados pelo contrato para "varredura" no Ministério da Saúde.

O número mesmo de "varreduras" indicado pelo governo é falso. Em tranquilo esclarecimento dado à Folha na tarde de sexta-feira, o coronel Fontenelle negou a ocorrência de periodicidade regular entre vistorias. A referência à periodicidade mensal, no primeiro contrato, deveu-se a conveniências de contratos no serviço público. No contrato feito dois meses antes da saída de Serra, a palavra "mensal" foi retirada do texto. Apenas "foi pedida", mas sem menção no contrato, "mais frequência de verificações", nas palavras do coronel.

As "varreduras" eram "sem periodicidade definida" e, esclarece Fontenelle, não abrangiam todos os pontos de cada vez. "Segunda-feira e terça, alguns. Mais tarde, outros. Não existe "varredura" todos os dias."

Barjas Negri deu a dimensão desse trabalho: "600 itens" de verificação a R$ 260,08 por item, o que leva aos montantes anual e mensal do novo contrato. Observação inicial: o coronel Fontenelle diz que "não verifica todos os itens a cada inspeção", mas um grupo de cada vez, "até para não despertar suspeita". Logo, não caberia multiplicar os 600 itens por seu valor unitário para fixar ou explicar o valor do contrato. Mais uma demonstração, portanto, da impropriedade do alto valor considerando-se apenas o serviço das "varreduras" referidas.

Outra observação sobre os itens a serem verificados: os 600 citados por Barjas Negri são produto de uma conta de chegar, para bater no total do contrato. O número é falso. "São mais ou menos uns 80 itens", esclareceu o coronel Fontenelle, já 24 horas depois de divulgada a nota de Barjas Negri com o número fabricado.

Ainda em seu atabalhoado e duvidoso socorro a quem o fez ministro, Barjas Negri diz que a "Abin [Agência Brasileira de Inteligência, o SNI criado pelo atual governo" e a Polícia Federal não teriam condições de fazer varreduras quinzenais ou mensais", por falta de pessoal e de estrutura. É mentira. Palavras do coronel Fontenelle: "Para fazer [varredura" de um telefone, um minuto e meio. Para fazer uma sala, meia hora". (E acrescenta o pormenor técnico: "Sempre fora do expediente, de preferência à noite"). Abin e Polícia Federal têm tal habilitação para "varreduras", seja em que periodicidade for, que são as incumbidas de fazê-las na própria Presidência da República.

Isso tudo é significativo, além dos seus aspectos administrativamente negativos, porque há forte evidência de escuta clandestina de telefones em São Luís, onde a apreensão do dinheiro de mil versões deu-se menos de 48 horas depois de sua chegada ao cofre que abrigava.

A Polícia Federal e o Ministério da Justiça, que a controla ou deve fazê-lo, proporcionam a incidência de vários fatos no sentido de sua participação eleitoral. "Não falo política nem falo sobre política enquanto estiver no comando da PF", diz o diretor da Polícia Federal. Faz e fala, sim. Em setembro passado, filiou-se ao PSDB de José Serra, o que constitui o mais explícito ato formal de definição política e partidária. Nos últimos meses, o delegado Agílio Monteiro Filho tem viajado em frequentes fins de semana para Belo Horizonte, se tornou notório o seu propósito de candidatar-se a deputado federal.

O repentino afastamento do delegado federal que presidia o inquérito sobre irregularidades na privatização de telefônicas -aquelas reveladas por gravações em que Fernando Henrique, Mendonça de Barros e outros combinam ingerências manipuladoras no processo de licitação- é mais do que um fato estranho. É um fato cujos componentes todos conduzem, forçosamente, à dedução de motivações políticas e eleitorais. Notabilizado como arrecadador de dinheiro para as campanhas de José Serra, Ricardo Sérgio de Oliveira tem posição muito delicada no inquérito. E não é o único dos identificados com Serra nessa história.

Em artigo na Folha de anteontem, o ex-ministro Saulo Ramos demonstrou a violência institucional, contra o Código de Processo Penal e contra a própria Constituição, do Ministério da Justiça e da Polícia Federal ao praticarem a operação no escritório da empresa Lunus, de Roseana Sarney e Jorge Murad.

"Em diligência desse tipo, quem cumpre mandado judicial deprecado é oficial de Justiça (art.355, pr. 2º, do CPP). E a polícia, a da comarca (de São Luís, no caso) somente pode e deve ser requisitada se houver resistência contra a busca e a apreensão." (...) "O mandado judicial, expedido em Palmas, estava em carta precatória ao juiz do Maranhão e era este quem deveria, se necessário, requisitar a polícia federal de lá para cumprimento da diligência." A operação foi toda feita pela Polícia Federal, e não por oficial de Justiça, e com policiais de Brasília especialmente escalados por Agílio Monteiro Filho.

Os procedimentos dessa operação deixam, também, uma lamentável interrogação sobre a conduta dos representantes da Procuradoria da República no inquérito da Sudam. Não por considerarem necessária a apreensão no escritório da Lunus, cujas suspeitas de participação nas fraudes e desvios financeiros da Sudam precisam ser apuradas sem reserva alguma, nem mesmo a do período eleitoral. Mas ficaram indícios de que colaboração de procuradores com as numerosas irregularidades praticadas na operação, e ainda depois dela, com implicações eleitorais cujos benefícios já estão expostos por pelo menos três pesquisas de opinião do eleitorado.

Em outra linha de presença do poder público, uma peculiaridade está impossibilitando a aceitação de motivos técnicos do BNDES para a concessão de R$ 284 milhões à Globo Cabo. É que a empresa acumula alto prejuízo e não tem evidenciado condições de cumprir compromissos inclusive com o BNDES mesmo. A atitude do banco, a esta altura, tem implicação eleitoral evidente a cada dia e, dados os precedentes, com esperável intensificação.

Entre jornalistas, comentam-se muito as pressões que José Serra tem feito sobre alguns deles, mais diretamente envolvidos com notícias e comentários a ele referentes, mesmo que ainda não publicados. É daí, em grande parte, que vêm as menções, em número crescente, ao seu autoritarismo e ambição desmedida de poder.

O uso das engrenagens do poder está mais desabrido e intenso do que jamais. Se no começo é assim, depois não será menos incondizente com os direitos e a legalidade que tanto têm custado a este país.

19 de jul. de 2006

É o cara !!!

Numa boa, todos reclamam de que as eleições deste ano são uma porcaria e tal. Mas no Rio de Janeiro é um luxo. Poder escolher o Vladimir Palmeira como governador é um luxo. Porra, ele foi massacrado pelos asseclas de Garotinho e Bené. Nunca teve palanque oficial dos cardeais do partido. Sinceramente, Vladimir é o cara !!!!!