21 de jul. de 2005

"DESABAFO"

Dirceu: "Vamos ter muita luta pela frente, mas eu sei lutar"

O colunista Jorge Bastos Moreno no Globo Online, citando como fonte um amigo do deputado José Dirceu (PT/SP), diz que, "para quem está há 40 dias no centro de uma crise política dessas dimensões, o homem está inteiro. E seguro."

O colunista reproduz um "relato do que o deputado anda pensando", a partir do que enotou "no meu caderninho". Comenta, a título de introdução, que o ministro-chefe da Casa Civil não faz "um desabafo amargurado, raivoso ou deprimido". Longe disso, Dirceu "estaria surpreendentemente de bom humor, com disposição para a luta". E cita: "Vamos ter muita luta pela frente. Mas eu sei lutar. Quando se tem o bom propósito na cabeça, a força não nos abandona."

Veja o texto reproduzido do blog, com a ressalva, feita por Bastos Moreno, de que "não são as palavras de José Dirceu mas as palavras atribuídas a José Dirceu por um desses amigos que estiveram com ele".

“Por que o Lula me tirou do governo? É uma pergunta que eu me faço cada vez mais. Não há rigorosamente nada contra mim. Nada. Agora, eu tenho até um atestado de idoneidade, depois do depoimento do Cachoeira na CPI dos Bingos. Eu já tinha esclarecido tudo àquela época. Na CPI estadual também fiquei limpo. Não devo nada.

Eu não tenho medo de nenhuma das investigações em curso, estou com a consciência mais do que tranquila. Eu não tenho medo de ir a CPI alguma, mas não vejo sentido em ser convocado pela CPI dos Correios. O que eu tenho a ver com aquela investigação? O meu nome não foi citado uma única vez, por quem quer que seja. Todos os nomes citados pelo funcionário dos Correios que recebe propina são do PTB. Roberto Jefferson me cita para dizer que eu é que mandei fazer aquela investigação. Ora, não vem ao caso se isso é verdade ou não, mas se eu teria mandado investigar, como posso estar envolvido na corrupção?

Os nomes citados na CPI dos Correios são outros. Não fui citado até agora por nenhum depoente. Por que ir lá?

A CPI do Mensalão é outra coisa. Vou ao Conselho de Ética. Não vejo problema nisso. Sou deputado, tenho o maior apreço pela Casa, como não poderia deixar de ser. Vou lá, tenho obrigação de ir e darei todas as explicações.

Vou dizer o óbvio: não tem mensalão algum, nunca teve e tenho certeza de que nunca haverá. Um esquema corrupto desse seria inadministrável! Isso é loucura, fantasia pura.

As oposições viram nessas denúncias uma oportunidade de carimbar o governo do presidente Lula. Mas para derrotá-lo vão ter que vencer nas urnas. Não tem essa conversa de tirá-lo do poder antes.Se tentarem fazer isso, vão incendiar o país, eles sabem disso, e eu vou estar na linha de frente para impedir isso. Se tentarem fazer isso, se o PSDB tentar, fiquem certos de que eles vão passar dez anos sem voltar ao governo, porque esse país vai ficar um furacão. A democracia levou tempo demais para se consolidar e não vai ser qualquer luta política que vai pôr fim a ela!

O PT tem de se explicar. Eu tenho falado isso para todos os companheiros. Se eu estivesse no comando do PT, se o Tarso Genro estivesse no comando do PT, essa loucura não tinha acontecido. Jamais teríamos dado tanta autonomia assim, para empréstimos tão altos. Nunca. Mas eu não podia mais me ocupar do PT e, institucionalmente, nem podia, porque estava no governo. Me afastei totalmente do partido.

Tão falando em Operação Uruguai, mas não é nada disso. Os empréstimos, eu soube agora, existem, estão registrados no Banco Central. A Operação Uruguai foi forjada. Como é que se forjam contratos de empréstimos no sistema bancário oficial, monitorado pelo Banco Central? Isso é balela, e tudo vai ficar esclarecido. Podem dizer que os empréstimos foram uma loucura, mas eles existiram, oficialmente. Isso de Operação Uruguai é besteira, vai tudo ficar claro.

Genoíno, coitado, está sofrendo muito, ele nem tem saúde para aguentar o tranco. Temos de dar suporte a ele nessa hora. Ele de fato não se envolveu nisso. O estilo dele é fazer política e não se envolver nessas questões. Foi omisso. Isso eu digo, com pena, mas digo: foi omisso, uma loucura.

Agora, não adianta chorar. Eu tenho falado para os companheiros. Quem pegou dinheiro para campanha tem de assumir. Não adianta negar, porque mais tempo menos tempo isso virá à tona e não adianta mentir. O pior é parecer que foi mensalão ou dinheiro de corrupção. Não foi. Os deputados do PT que sacaram o dinheiro no banco fizeram isso para as campanhas do partido. E devem assumir. Nem todos, é verdade. Tem dois ou três que não fizeram. Mas os outros devem assumir. E dizer claramente que o que fizeram todo mundo faz, porque o sistema político-eleitoral brasileiro leva a isso. Erramos, mas todo mundo errou. Ou vai dizer que os outros partidos resistem a uma investigação?

O que tem de mudar é o sistema político-eleitoral. As campanhas ficaram caras, o preço da democracia ficou muito alto, ninguém suporta os custos de uma campanha.

Showmício hoje é como um grande festival de Rock que é caríssimo, mas financiado por ingressos, por merchandising, por direitos de transmissão. Showmício custa igualmente caro mas é de graça, totalmente bancado pelas campanhas. A campanha na televisão é cada vez mais cara. Ninguém suporta e acaba gerando isso que estamos vendo. O PT está sendo o alvo hoje, mas qualquer partido poderia ser o centro das denúncias.

Acho positivo o Delúbio ter assumido isso. Foi errado, mas é melhor dizer a verdade. Não tem estratégia alguma de assumir o crime menor para esconder o maior. A estratégia é a verdade, é dizer a verdade: se erro houve, foi esse o erro. E isso vai ficar transparente nas investigações. Tem um monte de companheiro sofrendo. Gente que foi remunerada pelo partido com esse dinheiro não declarado e, agora, enfrenta o dilema: ou passa por corrupto ou assume que recebeu o dinheiro pelo seu trabalho legítimo, mas ‘por fora’. Não tem jeito. Quem recebeu sem ser pelos trâmites corretos, tem de admitir, retificar na receita, pagar os impostos. É tudo coisa pequena, tudo pagamento pelo trabalho legítimo pelo partido. Mas como o PT não tinha caixa, tinha de pagar dessa maneira. Agora, tem de enfrentar, admitir e retificar na Receita.

Eu estou tranquilo. Sei que vou levar uns dois anos para me recuperar politicamente, mas vou me recuperar. Tenho forças, já aguentei tranco pior. Vou aguentar mais este.

É por isso que estou calado, não adianta falar agora. Mas vou lutar, porque quem é inocente não teme nada. E eu sou totalmente inocente. Nunca me aproveitei de dinheiro público. Nunca me sujei.

Essa história de dizer que se eu depuser vou botar a boca no mundo, falando cobras e lagartos, como o Jefferson, é falsa, porque eu não tenho o que falar, não tenho podridão nenhuma escondida de nenhum companheiro. Mas tenho dos adversários. Tenho uma lista das nomeações que o Jefferson queria que fizéssemos e que não fizemos porque os indicados não tinham reputação ilibada.

A imprensa à época escreveu páginas e páginas dizendo que os aliados estavam insatisfeitos porque nunca demos nenhum ministério com porteira fechada: a diretoria era sempre pluripartidária, para evitar conluio, para que um controlasse o outro. Sempre se queixavam de que nós dávamos a presidência, mas segurávamos algumas diretorias, para controlá-los. Como é que agora viramos corruptos? Isso não faz sentido.

Vamos ter muita luta pela frente. Mas eu sei lutar. Quando se tem o bom propósito na cabeça, a força não nos abandona.

Eu tenho me dedicado aos meus afazeres de deputado. Ando pelas ruas sem nenhum problema. Vou a todos os lugares. Pego aviões em aeroportos lotados. E nada me acontece. Claro, um ou outro se aproxima para conversar, mas sempre gentilmente. Uma vez ouvi alguém dizer que estava decepcionado. Eu dialoguei, conversei, expus meus pontos.

Essa história de quem tem sósia meu levando tomate podre é mentira. Dupla mentira: primeiro, porque acho que o sujeito não é meu sósia; segundo, porque a história só pode ser inventada. Ouço críticas aqui e ali, mas sempre com muito respeito. Essa é uma característica do nosso povo.

Passo os dias me preparando para a luta. Lendo meus livros. Li a biografia do Fidel, escrita pela Cláudia Furiatti. Agora, estou lendo o livro sobre a Coluna Prestes, do Domingos Meirelles. Por essas duas leituras, as pessoas podem ter uma idéia da minha disposição.”


Fonte:Globo Online

18 de jul. de 2005

Allons enfants de la Daslu

Na véspera do 206 aniversário da Queda da Bastilha, os com-culote do andar de cima brasileiro foram à luta para defender a casa comercial Daslu. Treze de julho era também o 199 aniversário do dia em que Charlotte Corday, uma maluca mística, meteu uma faca no peito de Jean-Paul Marat, o jornalista que se intitulava “o amigo do povo”. Atribui-se ao historiador Fritz Stern, da Universidade Columbia, a observação de que os ricaços brasileiros vivem num mundo anterior à Revolução Francesa. Talvez isso explique a defesa da Daslu. É uma Bastilha que finalmente encontrou quem lute por ela: “Aux armes, citoyens”.

Marcharam os marqueses da Fiesp, um punhado de senadores e alguns sibaritas que por cá são denominados “colunáveis”. (Pessoas que, por absoluta falta de qualificação, deixam-se apresentar como profissionais da arte de sair em colunas.) Juntaram-se tucanos e pefelês. Todos horrorizados. O grito da Fiesp deu a dimensão do episódio: “Fatos notórios recentes, vivenciados pela sociedade, revelam situação de anormalidade (?) Não há como se manter alheio ou indiferente a essa realidade”.

Uma vizinha da Daslu, moradora da favela Coliseu, quando viu policiais armados de metralhadora, achou que a coisa ia ficar feia para sua gente. Surpreendeu-se ao perceber que a tropa foi “para o lado dos bacanas”. Contrastes há em muitos lugares. Cinquenta quarteirões separam a pobreza do Harlem hispânico de Nova York do triângulo celestial formado pelas joalheiras Tiffany, Bulgari e Van Cleef, nas esquinas da Quinta Avenida com a rua 57. Os brasileiros são maiores, mas não é no tamanho do contraste que mora o problema. O que falta a Pindorama é o velho e bom capitalismo, no qual o sonegador é um concorrente desleal.

O capitalismo é um sistema no qual a rainha dos hotéis de Nova York, Leona Helmsley, tomou 18 meses de cadeia, mais uma multa de US$ 7 milhões por ter sonegado impostos e dito que pagá-los era coisa de gentinha. No mesmo dia em que se formaram no Brasil os Batalhões Daslu, o ex-gênio da WorldCom, Bernard Ebbers, foi condenado a 25 anos de prisão por ter fraudado o Fisco e os acionistas da empresa em US$ 11 bilhões.

É a falta de capitalismo que gera men$alões, Valérios, Delúbios, caixa dois, empregado sem carteira assinada, mala de bispo da Igreja de Deus e cueca infernal de petista. Pode-se dizer o que se queira do deputado Roberto Jefferson, mas jamais um empresário brasileiro denunciou um décimo das malfeitorias que ele levou ao ventilador. Muito menos a Fiesp.

Os Batalhões Daslu poderiam prestar um serviço ao capitalismo, à marca, ao Fisco, à patuléia e à representatividade das instituições patronais. Pediriam à Polícia Federal e à Receita que providenciassem uma lista com o preço unitário de cem itens do catálogo Dasluziano. Não o preço de venda. O preço de importação, aquele das faturas. Nele, uma gravata de Ermenegildo Zegna vale R$ 3 (o estacionamento custa R$ 30). Há vestidos de R$ 30 e camisas de R$ 15. Essa lista seria a base da maior liquidação de todos os tempos. A loja botaria um lucro de 100% em cima de cada peça e venderia a gravata do Zegna por R$ 8 (admitindo-se R$ 2 de novos impostos). Haveria vestidos Daslu custando menos de R$ 100. Seria o mensalão do bem.

Fantasia? Talvez não. Conta a lenda do Fisco americano que o núcleo da coleção da National Gallery foi doado à nação depois de um entendimento dos fiscais da Viúva com o banqueiro Andrew Mellon, secretário do Tesouro do presidente Herbert Hoover. Dizem até que foi uma “situação de anormalidade” estimulada pelo presidente Franklin Roosevelt. Esse entendia de capitalismo.

escrito por Elio Gaspari em 17 de julho de 2005

13 de jul. de 2005

O Mensalão e a Matemática

por WAGNER DIAS DE MEDEIROS - retirado do blog da Tereza Cruvinel

Um pouco de humor. O Prof. Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes, envia-nos, dando curso a "corrente", o texto produzido por estudantes de engenharia, sobre a "Matemática do Mensalão", mexendo (óbvio) com seus colegas da área de "comunicação social", onde a matemática não costuma ser o forte...Estudantes de Engenharia estão divulgando esse texto, que além de bem-humorado, faz algum sentido: Use seu senso detetivesco e acompanhe com eles as investigações sobre o "crime da mala";Segundo Roberto Jefferson, o mensalão do PT era transportado em malas.Primeira questão: você transportaria uma alta quantia de dinheiro em uma mala enorme, com todo o ar de coisa suspeita? Numa discreta valise de executivo, talvez. Uma destas valises mede 40cm de largura por 35cm de comprimento, tendo em torno de 5cm de profundidade. Uma nota de 50 ou 100 reais tem 12cm X 6cm, logo uma valise comportaria com segurança quatorze maços de quinhentas notas o que equivale a sete mil notas.

Ainda, segundo Roberto Jefferson, o mensalão era de trinta mil reais, o que em notas de cem daria um paco de trezentas notas de cem. Levando-se em conta que esse dinheiro não poderia ser depositado em conta corrente, o jeito era levar pra casa e ir gastando. Você já tentou trocar uma nota de cem? Bem, trocar trezentas notas de cem não deve ser fácil , mesmo para um deputado. Então vamos supor que o mensalão fosse pago em notas de cinqüenta. Jefferson disse que a bancada do PP, que é composta de 53 deputados, e a do PL, com 55, recebiam o mensalão de 30 mil reais. O que dá um total de 108 mensalistas, recebendo a quantia de três milhões, duzentos e quarenta mil reais por mês, o que em notas de 50 equivale a 64.880 notas, que seriam então transportadas em nove malas, já que cada mala carrega sete mil notas. As malas iriam então com trezentos e cinqüenta mil reais, ou seja dez deputados e 1/6 de um.

Como não existe alguém 1/6 corrupto, vamos assumir dez malas, para juntar numa mais vazia os pedaços de corruptos que sobram. Ainda segundo Jefferson, o pagamento aos dirigentes de partidos era feito numa sala ao lado da sala do Chefe da Casa Civil, em pleno Palácio de Governo, por Delúbio Soares, que não ocupava cargo nenhum no mesmo Governo. Delúbio levaria todo os meses dez malas para dentro do Palácio, para entregar a dirigentes de partidos. Tudo isso discretamente, sem chamar a atenção de ninguém. Delúbio só tem duas mãos. Também não seria muito simples entrar no Palácio com alguns carregadores ou com um daqueles carrinhos de aeroporto, logo, ele poderia transportar - no máximo- duas malas, o que já seria muito suspeito. Alguém anda por aí com uma mala de executivo em cada uma das mãos, sem que ninguém repare? Delúbio teria de entrar então, discretamente. Com uma mala de cada vez. O que daria dez viagens num mesmo dia. Impossível passar desapercebido.

Um terço de mensalão, só em mala. E de onde viria tanto dinheiro? Segundo Karina Sommagio das empresas de Marcos Valério, um corruptor tão ingênuo que deixa seu Office-boy, que deve ganhar menos de quinhentas pratas ao mês, sacar em dinheiro das contas da empresa um milhão de reais e vir tranquilão, com três valises, ou uma grande mala pelas ruas de Belo Horizonte, uma cidade sem nenhuma violência e com os Office-boys mais honestos do mundo, pois, embora trabalhem para corruptores de deputados, jamais pensaram em sacanear seus patrões e fugir com a grana direto pro Aeroporto da Pampulha, morrendo de rir do babaca do patrão que não pode nem dar queixa à polícia. Senhores, essa história tem mais furos do que queijo suíço e só há uma explicação para a imprensa não ter parado para fazer essa conta: jornalistas não sabem matemática. Por isso, prestaram vestibular para COMUNICAÇÃO SOCIAL. VIVA A ENGENHARÍA!!!

O grande erro da cúpula petista foi ao ter encontrado em Brasília, uma máquina de arrecadação de dinheiro que era usada, há décadas para, desde a pura e simples compra de parlamentares(200 mil para a reeleição de FHC) ao financiamento de campanhas, até, como não poderia deixar de ser, o enriquecimento próprio. Ao que tudo indica, esta cúpula dirigente usou a mesma máquina, para comprar deputados de partidos fisiológicos, a fim de garantir a tal governabilidade e pagar dívidas de campanha. Pelo menos não houve enriquecimento próprio, se é que isso serve de atenuante de culpa. E agora, os mesmos caras que inventaram a maquininha, se arvoram de reserva moral da nação, com o único objetivo de toma-la de volta e todo mundo embarca na onda deles. O PT já esta pagando caro pelo erro dos seus dirigentes. O que PFL, PSDB e Bob Jefferson, que não são em nada são melhores que o PT, muito pelo contrário, querem é a destruição do PT, o que com certeza não interessa à democracia brasileira.

Quando parar o maluco sou eu

Impressionante, mas quem escreveu 'sabe tudo' de golpe. Amigo dos milicos, conhece as engrenagens golpistas e todas as suas artimanhas. Bem segue o texto dele hoje:

Há um fino golpe no ar
ELIO GASPARI

É golpista a articulação de uma renúncia de Lula à reeleição. Embrulhada numa Sacola da Daslu (a Bolsa Família dos tucanos), ela funcionaria assim:
1 — Lula vai à televisão e anuncia que não disputará a reeleição.
2 — O Congresso aprova uma emenda constitucional que acaba com a reeleição e aumenta de quatro para cinco anos o mandato dos próximos presidentes da República.
3 — Desmoralizado, o companheiro vai para casa, o PT definha, e o PSDB volta ao Planalto.

A idéia é golpista porque coloca a Constituição a reboque de um arranjo. As leis da terra dizem que o mandato de Lula vai até o dia 1 de janeiro de 2007, quando será substituído na Presidência pelo cidadão escolhido em 2006. Essas mesmas leis garantem ao companheiro o direito de disputar a reeleição.

O arranjo embute a cassação dos cidadãos encarregados de eleger o presidente da República. Cassa-lhes o direito de julgar Lula. Se ele quiser disputar a reeleição, duas coisas podem acontecer: ganha ou perde. Nos dois resultados, seu destino será decidido pela patuléia soberana que o pôs no Planalto em 2002. Os hierarcas de Brasília não têm mandato para fazer um cambalacho que tira aos eleitores o direito de decidir a questão. Tem gente disposta a mostrar que continua confiando no presidente, assim como tem gente que venderia a cueca para ter o gosto de mandá-lo de volta para São Bernardo.

O interesse pela renúncia de Lula reflete dois tipos de receios. A desistência seria conveniente para preservá-lo. Uma espécie de trégua no andar de cima. Esse é o receio bem-intencionado. Maligno é o medo de que, uma vez candidato, Lula se reeleja. Afinal, se esse medo não existisse, a desistência seria desnecessária, por irrelevante.

Medo de voto é coisa perigosa. Não custa lembrar uma brilhante construção do jornalista Carlos Lacerda em 1950: “O sr. Getúlio Vargas (?) não deve ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito.” Até aí, tudo bem, mas Lacerda continua: “Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar.” As desgraças da política nacional na segunda metade do século passado vinham das duas primeiras negativas: “não deve ser candidato (?)”, “não deve ser eleito”. Era o medo da volta de Vargas, que virou medo da chegada de João Goulart e, mais tarde, tornou-se o medo (absolutamente despropositado) da vitória de Lula.

Trata-se de um golpezinho esperto, porque seria ratificado pela vítima. Como na mágica de 1961, quando João Goulart se conformou com o parlamentarismo de mentirinha que salvou a face de uma revolta de generais derrotada nas ruas. É também um golpe bem-educado, pois assenta-se exclusivamente num conchavo parlamentar. Não rosna a força das armas, nem a da rua.

Em 1840, com o Golpe da Maioridade, os mandarins do Império colocaram um garoto de 14 anos no trono do Brasil.Na República, sucederam-se os Golpes da Menoridade, todos destinados a substituir a vontade de um povo considerado incapaz. A idéia é sempre a mesma: em nome de uma conciliação destinada a aplacar as tensões da Guerra Fria (no século XX) ou dos mercados financeiros (no XXI) aceita-se qualquer acordo, desde que a escumalha fique de fora.

Se Lula achar que deve disputar a reeleição, não se pode tirar ao povo brasileiro o direito de decidir onde o companheiro vai morar.

12 de jul. de 2005

Imprensa que eles peidam

o título é uma alusão ao bloco de carnaval 'imprensa que eu gamo'

Num país sério essas coisas não ocorreriam. O Globo Online estampa que as 'Denúncias não sujam a imagem de Lula', pôrra, todo mundo sabe a diferença entre sujar e manchar, graus distintos. É uma imprensa, em sua maioria, covarde. Se esconde atrás do véu da liberdade, mas quando é assunto favorável aos seus editores mudam logo o tom.

Me lembra aquelezinho do 'Merdal' Pereira que tomou uma corrida do Lessa. Também escrevia bobagem pelo simples fato de querer desancar os outros, no caso o presidente do BNDES numa campanha pessoal. Esta imprensa não pode continuar assim, mas vai. Este mesmo Merval escreveu que inchaço de deputados da base governista não ocorreu no governo anterior. Como?! Hã?! O PSDB se elegeu com uns 30 ou 40 e logo depois já passava dos 60/70.

E a Dora, nossa senhora, é horripilante escutá-la nas ondas do rádio. Lê-la eu já havia desistido. E a filha dela, a Helena Chagas, deveríamos sermos vacinados com doenças como essa...

Sinto pelos poucos bons jornalistas, Tereza Cruvinel é um deles, são ilhas deética comportamental nesta excrecência geral.

Por isso que eu falo(escrevo), a gente lê os jornais, internets, tvs e rádios e é tudo pasteurizado. Stálin ficaria orgulhoso... Plim-plim.

8 de jul. de 2005

Momento de descontração

Uma interface em 3D do planeta
Tem algum lugar do planeta que voce gostaria de conhecer? Experimente o link abaixo, é surreal. Dependendo da cidade voce pode ver até os carros, construções em 3D e o caramba a quatro. Imperdível e de graça. O Google está foda...
http://desktop.google.com/download/earth/index.html

7 de jul. de 2005

Câmara se queixa do "Casseta & Planeta"

Pressionada por deputados, a Procuradoria da Câmara vai reclamar junto à Rede Globo pelas alusões feitas no programa "Casseta & Planeta" exibido terça-feira passada.

Os parlamentares reclamaram especialmente do quadro em que foram chamados de "deputados de programa". Nele, uma prostituta fica indignada quando lhe perguntam se é deputada.

O quadro em que são vacinados contra a "febre afurtosa" também provocou constrangimento. Na noite de quarta-feira, um grupo de deputados esteve na Procuradoria da Câmara para assistir à fita do programa. Segundo o procurador Ricardo Izar (PMDB-SP), duas parlamentares choraram. Izar se encontrará segunda-feira com representantes da emissora para tentar um acordo antes de recorrer à Justiça.

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti ( PP ), também se disse indignado: - O programa passou dos limites. Eles têm talento suficiente para fazer graça sem desqualificar a instituição, que garante a liberdade para que façam graça.

O diretor da Central Globo de Comunicação, Luís Erlanger, disse que a rede só se pronuncia sobre ações judiciais depois de serem efetivadas. Os humoristas do Casseta & Planeta não quiseram falar sobre o assunto dizendo não querer "dar importância à concorrência".

NOTA DE ESCLARECIMENTO
"Foi com surpresa que nós, integrantes do Grupo CASSETA & PLANETA, tomamos conhecimento, através da imprensa, da intenção do presidente da Câmara dos Deputados de nos processar por causa de uma piada veiculada em nosso programa de televisão. Em vista disso, gostaríamos de esclarecer alguns pontos:

1. Em nenhum momento tivemos a intenção de ofender deputados ou prostitutas.O objetivo da piada era somente de comparar duas categorias profissionais que aceitam dinheiro para mudar de posição.

2. Não vemos nenhum problema em ceder um espaço para o direito de resposta dos deputados. Pelo contrário, consideramos o quadro muito adequado e condizente com a linha do programa.

3. Caso se decidam pelo direito de resposta, informamos que nossas gravações ocorrem às segundas-feiras, o que obrigará os deputados a "interromper seu descanso."

6 de jul. de 2005

EUA no Paraguai

O governo de Assunção acaba de autorizar o estacionamento de tropas norte-americanas em seu território. Pela primeira vez teremos bases estrangeiras permanentes na América do Sul, na estratégica região da usina de Itaipu.

MAURO SANTAYANA da Agência Carta Maior em 4/7/2005

Com os olhos em Roberto Jefferson, não estamos atentos ao que se passa ali, no Paraguai. O governo de Assunção acaba de autorizar o estacionamento de tropas norte-americanas em seu território. Pela primeira vez teremos bases estrangeiras permanentes na América do Sul, e em região estratégica continental. Nessa tríplice fronteira se encontra a maior represa do mundo, a de Itaipu, de cuja energia todo o território paraguaio e grande parte do território brasileiro dependem. A região é também das mais férteis do mundo e se encontra mais ou menos na eqüidistância dos dois oceanos.

Temos relações historicamente difíceis com o Paraguai, desde a guerra contra López. Os revisionistas procuram culpar o Brasil pelo conflito, mas a isso fomos levados pelo fechamento do Rio Paraguai aos nossos barcos e, em seguida, pela invasão de grande parte do território do Mato Grosso. Não coube ao Brasil a iniciativa da agressão. É certo que o genro do Imperador Pedro II foi particularmente cruel com a população derrotada e, talvez por isso, tenhamos cedido em tudo nas nossas relações com o país vizinho.

Não sabemos se o Paraguai nos comunicou essa decisão perigosa. É provável que não. A submissão paraguaia aos Estados Unidos é tão forte que este colunista, há quarenta anos, ao descer em Assunção, encontrou o aeroporto tomado por tropas formadas, ao lado de colegiais que agitavam bandeirolas norte-americanas. Procurou saber o que ocorria: o funcionário do Departamento de Estado que cuidava dos assuntos do Paraguai estava chegando em visita oficial a Assunção.

Conforme divulgou a revista Newsweek, logo depois de 11 de setembro, o sub-secretário da Defesa, Douglas Feith, sugeriu a Bush a invasão da tríplice Fronteira por tropas aerotransportadas, a fim de capturar membros da Al Qaeda e ocupar permanentemente a região. Alguém achou melhor a invasão do Iraque, mais viável politicamente. Tudo isso nos leva a pensar um pouco no que nos está ocorrendo. É bem provável que Washington tente retirar vantagens da crise interna. Um país dividido, conforme a velha advertência de Lincoln, é presa fácil para os seus adversários.

Como os Estados Unidos não podem viver sem guerras, e estando suas tropas escorraçadas do Iraque, não seria de admirar se viessem a nos agredir sob o pretexto da presença de muçulmanos em Foz do Iguaçu. Tudo isso deve convocar a nossa reflexão, a fim de esclarecer logo as denúncias que atingem o governo e o Partido dos Trabalhadores, a fim de que possamos nos organizar para a eventual defesa da soberania territorial do Brasil. Temos, ali, o exemplo histórico de provocações e de ocupação de nosso espaço soberano.

Os Estados Unidos, hoje, mais do que nunca, estão desrespeitando todas as regras de convívio internacional, a ponto de o mais submisso governante europeu, Sílvio Berlusconi, ver-se obrigado, na última sexta-feira (1º), a pedir explicações oficiais ao embaixador norte-americano pelo fato de a CIA ter seqüestrado um clérigo muçulmano em Milão e o haver transferido clandestinamente para fora do país. A Justiça italiana determinou a prisão dos 13 agentes da CIA envolvidos no episódio.

Se assim agem contra um país da União Européia com o qual têm as relações mais fraternas ao longo da História, que podemos deles esperar quando nos encontramos fragilizados pela crise, e pela entrega de setores estratégicos aos estrangeiros, durante o governo neoliberal de Fernando Henrique, quando disputamos com o Paraguai a vassalagem a Washington?

4 de jul. de 2005

Cinco razões para defenestrar Lula

Em meio à crise, vem-se dizendo à esquerda e à direita que a turma da Casa Grande não teria motivos para defenestrar Lula do Planalto, uma vez que a política econômica lhe satisfaz. Ledo engano. A entrevista de FHC à revista "Exame" é um indício disso.
Em meio à maré de denúncias e debates sobre corrupção no PT, no governo, em estatais e no Congresso, vem-se propalando tanto à direita quanto à esquerda a tese de que a turma da Casa Grande brasileira, em especial a do disco rígido financeiro e rentista, não teria o menor motivo para defenestrar Lula do Planalto, uma vez que a sua política econômica lhe protege e satisfaz o apetite.
Ledo engano. O indício mais claro desse engano é a solerte sugestão do sempre alerta Fernando Henrique Cardoso, em entrevista à revista Exame que ora circula, sugerindo que Lula declare não ser candidato em 2006 como modo de saltar sobre a crise de governo, além de repetir que o PT é um partido anacrônico, estatista, etc. Dou abaixo algumas razões para que a Casa Grande queira defenestrar Lula, seja em 2006, seja antes, se esta oportunidade se oferecer ou se impuser.
1) Há prisões demasiadas de empresários aparecendo na TV, e escritórios de advocacia tendo arquivos abertos. Já se ouvem gritas na também sempre alerta imprensa, em artigos e editoriais, reclamando que a Polícia Federal está demasiado à solta. Ou que o governo faz publicidade e espalhafato com essas prisões e devassas. Ora, um Ministério da Justiça de fato comprometido com a luta contra os crimes de colarinho branco é coisa que tira o sono de muita gente na Casa Grande brasileira. E o povão gosta de ver colarinho branco criminoso algemado ou preso. Ou não?
2) Lula negociou com o MST. E resistiu ao tratoraço dos ruralistas em Brasília, não lhes cedendo tudo aquilo que queriam. Até o momento o governo não reprimiu um único movimento de trabalhadores. Apesar de envolto pela política econômica neoliberal que recebeu de herança, Lula guarda uma identificação de raiz com as classes trabalhadoras e a gente pobre. Não extirpou completamente a esquerda de seu governo nem deixou de fazer políticas sociais de relevo, ainda que comprimidas pela torneira seca do Ministério da Fazenda e dentro da moldura apertada da tecnocracia do Banco Central, através do sacrossanto superávit primário. Mas é o suficiente para que a Casa Grande não goste e veja o governo com desconfiança. Além de lhe ser também uma ameaça ao sono tranqüilo, esse permanente cheiro de pobreza e trabalho no paço é uma ofensa à sua visão de cultura, ao seu gosto e ao seu estilo.
3) A política externa. Hoje se trava uma luta na América Latina de dimensões continentais. A comarca andina está tomada por insurreições populares. Da Bolívia, vieram fotos suficientes para molestar o sono da Casa Grande, sobretudo quando entre os camponeses apareceram os capacetes dos mineiros, com seus cartuchos de dinamite a enfrentar o Exército, como em 1952. Governos à esquerda espalham-se pelo continente. É uma questão de classe: neste quadro de confronto, é fundamental para a Casa Grande retomar o controle direto sobre a política externa de metade da América do Sul, isto é, o Brasil e consolidar a sua política de alianças. Além do mais, a nova inflexão da política externa brasileira inverteu o sentido das negociações da Alca, aproximou-se de países emergentes, consolidou-se como uma das lideranças neste grupo, enfrentou os países onde se concentram os donos do mundo. É demais para a Casa Grande, cujo interesse principal é o de subordinar de todo a política externa à garantia de créditos internacionais.
4) Lula ainda tem por trás de si um partido que pode se reerguer das brasas em que está sendo fritado. Esse partido é um patrimônio da esquerda nacional, continental e mundial. No momento, sua direção está acuada pelas acusações e sua militância, aturdida. Mas se esta militância vencer a confusão e trocar a direção do partido, ou pelo menos forçar a troca da direção em que a direção se move, Lula terá reativado o braço esquerdo de sua administração. Assusta as noites da Casa Grande o pesadelo de ter pela frente um partido que, ao invés de ter de ficar explicando sete dias por semana por que não afasta ou se afastam de sua direção os acusados de corrupção enquanto durem as investigações, passe à ofensiva, rearticulando-se com os movimentos sociais e pressionando para que se acentue o lado social do governo Lula e ponha em declínio o seu lado neoliberal.
5) Lula está grudado em Palocci, na Fazenda e no Banco Central, mas Lula não é Palocci. Palocci comprou e revendeu a política econômica dos tecnocratas da Fazenda e do Banco Central. Para a Casa Grande, é ele o presente fiador público dessa política, como matérias na imprensa vem demonstrando, não Lula. Lula é um acidente de percurso, uma pedra no sapato, ainda que o sapato continue andando na mesma direção. Em algum lugar do passado, Lula se declarou favorável à ampliação do Conselho Monetário Nacional. De vez em quando Lula peita a política da Fazenda. Foi assim no acordo com o MST, foi assim no caso do Fundeb. O sonho dourado da Casa Grande é ter uma disputa em 2006 entre Palocci e Alkmin, ou sucedâneo, como FHC ou Serra. Já pensou? Em que lua de Saturno eu vou me refugiar?
É claro que, para a Casa Grande, ainda há muita coisa a acomodar nesse quadro. Como satisfazer o apetite do PFL? Como ajeitar a disputa interna no PSDB? Que pedaço do PMDB atrair para uma nova frente de direita? Como garantir que a metralhadora giratória do deputado Roberto Jefferson só cause estragos no PT e no governo, uma vez que isso de manchetes só darem destaque a essa parte das acusações tem limites? Como impedir que a crise da esquerda jogue água no moinho de algum Berlusconi à brasileira, ou novo Collor, com quem tenha de renegociar suas pretensões? Como conciliar a bandeira que está se firmando, de diminuir drasticamente o número de cargos de confiança, coisa que o governo Lula deveria empalmar como bandeira, quae sera tamen, ainda que tarde, com o tradicional apetite dos partidos que a representam? Como evitar que a bandeira, que também se afirma, do financiamento público de campanhas eleitorais, comprometa seus métodos tradicionais de influenciar a vida partidária? Que concessões fazer ao Condomínio da Classe Média, agitado ou deprimido pelas novas denúncias de corrupção, e comprimido entre a avidez financeira e rentista, e a pressão por dias melhores dos “de baixo”, uma vez que o currículo dos partidos que representam a Casa Grande é assustador?
O Brasil é um país peculiar, porque tem movimentos sociais organizados e muito fortes, apesar da retração que lhes é imposta em tempos de império do mercado: como impedir que eles se aglutinem e façam barreira intransponível à pretensão da Casa Grande de acaudilhar de vez o Estado pela próxima década e por todos os séculos dos séculos amém? Como afastar Lula antes da eleição, se seu prestígio junto ao povo permanecer inalterado apesar das denúncias, sem provocar uma comoção social, pondo os movimentos na rua a defender seu mandato?
Como passar à ofensiva ideológica, uma vez que tudo o que os arautos da Casa Grande na imprensa e fora dela defenderam, baseados no Consenso de Washington, deu errado no mundo inteiro e no Brasil, fazendo naufragar antes do tempo os vinte anos da prometida “era FHC”? Como rearranjar um acordo entre os interesses rentistas, industriais, comerciais, e agronegociais? Como neutralizar a bandeira da reforma agrária sem dar a impressão de que estaria fazendo isso?
Como vêem, a vida na Casa Grande, ainda que mais amena do que no resto do Brasil, também não está fácil. Uma coisa é certa: para ela, nenhuma resposta possível a estas perguntas passa pela presença de Lula no Planalto além de 2006, seja ele símbolo ou líder, ou coisa que o valha. Todas elas exigem a restauração, no paço, dos seus brasões ou varões assinalados, ao invés de alguém que ainda cheira demais a povo.
Resta saber o que a esquerda vai fazer. Se vai enfiar a cabeça no buraco ou se vai de novo olhar o horizonte e recuperar sua estrela-guia. Mas isto é assunto para outra carta, que esta já vai longa na noite que estamos atravessando.
De Flávio Aguiar para a Agência Carta Maior