31 de ago. de 2004

Expo Brasil-China

Expo Brasil-China

O Brasil dá um importante passo na busca por um desenvolvimento econômico global que beneficie não só um pequeno grupo de países, mas todas as nações.

Do dia 31 de agosto até 3 de setembro a China será invadida por uma missão brasileira que ocupará 11 mil metros quadrados em Pequim para mostrar tudo que o Brasil pode oferecer ao gigantesco mercado chinês. São mais de 150 companhias brasileiras, entre elas Embraer, CSN, Vale do Rio Doce e Aracruz, assim como estatais como Petrobrás e empresas do grupo Eletrobrás. Esta missão contará com centenas de empresários e executivos dos diversos setores da nossa indústria, comércio e energia.

A China é um enigma ao mundo globalizado. Sua economia é robusta e dinâmica, seu mercado interno é de mais de um bilhão de pessoas e sua política é “comunista democrática de mercado”
[i]. Apesar de ter entrado na OMC em 2001, já é hoje a sexta economia mundial[ii]. Se antes se temia o despertar da China comunista, saiba que hoje ela já acordou e é uma megapotência. No futuro, se a China mantiver seu crescimento atual, ultrapassará os Estados Unidos por volta de 2041, tornando-se a principal potência econômica do mundo[iii].

A China representa hoje um dos maiores exportadores mundiais, devido ao seu vasto litoral e à criação de zonas especiais de comércio nestas áreas. Os produtos chineses são encontrados em todas as prateleiras do mundo e em 2003 o déficit comercial norte-americano com a China foi de U$ 130 bilhões. Mas, nas importações o apetite chinês também é voraz.

Em 2003, a China foi o principal importador mundial de cimento (importou 55% da produção mundial), de carvão (40%), de aço (25%), de níquel (25%) e de alumínio (14%). E foi o segundo principal importador mundial de petróleo, depois dos Estados Unidos. Essas importações maciças provocaram uma explosão de preços nos mercados mundiais. Em especial, os do petróleo.

Entre 1980 e 2003, a China deu um salto. Seu PIB subiu de 240 bilhões para 1,3 trilhão de dólares. Seu comércio externo pulou de 40 para 800 bilhões de dólares. Sua população de 1,2 bilhão de pobres passou a “enriquecer em ondas”. 500 milhões ainda são pobres, 500 milhões atingiram o nível de classe média e 250 milhões já tem poder aquisitivo de classe média alta. O plano da China: chegar em 2020 com 1,4 bilhão no piso de classe média alta (padrão belga de vida).

No campo cultural a China também é um fenômeno. Além de ser a mais velha civilização mundial, é detentora de inúmeras invenções que fazem parte do nosso cotidiano como a pólvora, o sistema decimal, a acupuntura, o ferro fundido, a bússola, o sismógrafo o papel e a tinta nanquim. No cinema a China conseguiu a façanha de ter a maior bilheteria da semana com o filme ‘Hero’ todo falado em chinês, faturando US$ 17,8 milhões nos seus três primeiros dias de exibição nos Estados Unidos.

A visão brasileira de aproximação com a China, leva em consideração todos estes fatores acima mencionados. A importância chinesa vem crescendo e o Brasil não poderia deixar de perceber. Afinal, a exportação brasileira para o país do Sol Nascente (China) é hoje, em sua maioria, de soja e ferro. E o que é que o Brasil têm a oferecer?
O Brasil tem tecnologia no campo das grandes siderurgias e de combustíveis menos poluentes (álcool); tem o maior rebanho bovino verde (imune à doença da vaca louca); tem sucesso na aviação regional com aviões de pequeno e médio porte; tem fartura de minérios para as indústrias de base. Isso são algumas das coisas que fazem arregalarem os olhos dos chineses.
[i] Definição dada por Ignácio Ramonet no editorial do Le Monde Diplomatique, Ed nº 55
[ii] Está situada entre a Grã-Bretanha e a Itália (depois de Estados Unidos, Japão, Alemanha e França) e deverá passar a integrar o G8, grupo dos países mais industrializados que, além dos já citados, inclui o Canadá e a Rússia.
[iii] Segundo a especialista Maryam Khelili, nessa data os seis países mais prósperos do mundo serão a China, os Estados Unidos, a Índia, o Japão, o Brasil e a Rússia.

25 de ago. de 2004

Bimba e a tunda

E quando Bimba toma uma tunda...


Bimba, tomando tunda e cara de b...

23 de ago. de 2004

O que é democracia?

O que é, afinal, a democracia?
É preciso questionar a democracia para podermos reiventá-la e não permitir que seja pervertida pelo poder econômico e financeiro que não é nem eleito pelo voto popular nem controlado pelos cidadãos
José Saramago
Leia o brilhante artigo do nobel português que desseca o conceito de democracia tão em voga de que seja a forma perfeita de sistema de governo. Devemos analisar este conceito e sua utilidade para saber se vale a pena torná-la obrigatória e universal.

17 de ago. de 2004

Anúncio na TVE pode?

Anúncio na TVE pode?

E pode anunciar na TVE?, pergunta a propaganda. E se apressa em responder: “Claro que pode. Afinal a TVE é uma emissora democrática. Aberta tanto para o público como para os anunciantes”. O anúncio é da TVE da Bahia, pertencente ao governo daquele Estado. É mais descarnado que o comportamento de outras televisões que deveriam ser públicas, mas que se distanciam cada vez mais desse objetivo, funcionando com critérios mercantis.


Nesse caso, a TVE da Bahia explicita a concepção que tem da democracia. Coerente com o caráter que a democracia assumiu no período de hegemonia neoliberal, democracia se identifica com o mercado, demonstra que é ‘democrática’, não discriminando os anunciantes. Anunciantes significa financiador, com as conseqüências correspondentes.


O que isso significa? O que significa a presença de anunciantes nos órgãos de imprensa? Significa um forte condicionamento, que materializa a contradição central da mídia privada nas sociedades capitalistas: desempenham um caráter público, mas são empresas privadas, movidas pelo lucro.
Aceitar anúncios privados parece algo óbvio, positivo. Afinal de contas, o próprio governo anuncia que vai substituir uma reforma tributária justa, que faça pagar impostos o sistema bancário, que aufere lucros gigantescos, pela tentativa de captar recursos no setor privado – através do chamado PPP – parceria público-privado – para obras de responsabilidade do Estado. O que faz aqui é introduzir a lógica privada, a expectativa de auferir de lucro na esfera estatal, que deveria se orientar pelo direito das pessoas, isento de mecanismos de mercado. Ao fazer, o governo tem que retribuir os investimentos privados com garantias e polpudos retornos, até porque compete com outras possibilidades de investimento, inclusive na Bolsa de Valores, onde os capitais não pagam impostos, conseguem maiores retornos existentes, com uma liquidez total. Só mesmo oferecendo condições ainda mais favoráveis – se é que elas existem – é que o governo poderia obter captações de recursos, o que dificilmente existirá.


Empresas de jornalismo vendem ações no mercado, acreditando que apenas aumentaria seu capital, sem contrapartidas. Essa atitude do Le Monde gerou um debate com os dirigentes do Le Mode Diplomatique, no ano passado, em que se mencionava, por exemplo, que o Financial Times havia tido um excelente desempenho no ano anterior, mas os acionistas exigiram o retorno de seus investimentos e o jornal acabou mandando embora uma quantidade de jornalistas. Denunciava-se a perda de autonomia mantida em um jornal como Le Monde Diplomatique, em que a publicidade não é maior que 5 por cento das rendas do jornal e em que ações estão repartidas entre o proprietário original, o Le Monde, os jornalistas da redação e uma associação de apoio dos leitores, de forma que o redator chefe nunca seja nomeado fora das indicações dos jornalistas e da associação dos leitores.

A experiência negativa da TV Cultura revela como, no caso das TVs estatais, sua programação passa a depender da disposição dos anunciantes, perdendo sua autonomia, porque as agências de publicidade passam a escolher os espaços para os quais serão destinados os anúncios. O ‘mercado’ passa a interferir, de forma cada vez mais forte, conforme o Estado se retira de sua responsabilidade de promover a cultura e a informação de forma democrática.


O ‘mercado’ revela assim sua face antidemocrática, dado que seus interesses estão voltados para a multiplicação das vendas e do lucro e não se orientam pela qualidade da programação. Uma mídia democrática é uma mídia pública – nem estatal, nem mercantil. Financiada pelos recursos públicos, mediante mecanismos de orçamento participativo e não submetida aos mecanismos de mercado.

Emir Sader – Caros Amigos nº 89 – pg 28

Expo Brasil-China

Nossa grande mídia mostra porque é tendenciosa, estamos a pouco tempo de um grandíssimo evento internacional, uma Expo Brasil-China, onde vamos mostrar o que o Brasil tem a oferecer neste novo milênio ao enorme mercado consumidor chinês. E a última notícia sobre este evento é datada de 12 de julho de 2004.

Se fosse no governo FHC, seriam cadernos especiais e tudo o mais. O problema é que a ave de bicos longos e de negra plumagem ficou alvoroçada com a repercussão internacional da 'real politik' tupiniquim atual. E como a a mídia brasileira é tendenciosa, jogou este evento para escanteio. Vão falar sobre as Olimpíadas e depois vão minimizar a expo. Tudo para ver se continuam a meter o malho no governo e fazer com que não se dê tão bem nas eleições que se avizinham.

Expo Brasil-China


Entre os dias 31 de agosto a 9 de setembro de 2004 ocorre a expo Brasil-China, um evento destinado a expandir o conhecimento sobre nosso País e seus mercados, gerar oportunidades de negócios e investimentos, além de incentivar parcerias estratégicas entre Brasil e China, especialmente nos seguintes setores: agropecuário, construção civil, moveleiro, mineração, têxtil e turismo.

Entre 1980 e 2003, a China deu um salto. Seu PIB subiu de 240 bilhões para 1,3 trilhão de dólares. Seu comércio externo pulou de 40 para 800 bilhões de dólares. Sua população de 1,2 bilhão de pobres passou a “enriquecer em ondas”. 500 milhões ainda são pobres, 500 milhões atingiram o nível de classe média e 250 milhões já tem poder aquisitivo de classe média alta. O plano da China: chegar em 2020 com 1,4 bilhão no piso de classe média alta (padrão belga de vida).Desse modo, o Brasil está diante de um país cujo mercado, nos próximos 20 a 30 anos, apresentará forte demanda de produtos e capitais, e forte oferta de equipamentos, tecnologias e capitais. O comércio Brasil – China já saltou de 2 para 8 bilhões de dólares, mas ainda há um vasto campo de oportunidades para novos saltos.

Saiba mais sobre o evento

16 de ago. de 2004

Conflito de interesses

Conflito de interesses
por Ilimar Franco - 16/08/2004


A criação dos conselhos de jornalismo, proposta pelo governo Lula e pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), está trazendo à luz o fosso que separa as atividades jornalísticas e de assessoria de imprensa. O presidente da Radiobrás, Eugênio Bucci, já havia chamado a atenção para este problema no livro “Sobre Ética e Imprensa”. Lá, Bucci afirma: “Em Portugal, que está à frente do Brasil nessa matéria, o jornalista é impedido pela Comissão da Carteira de Jornalista de exercer assessoria de imprensa e atividades publicitárias. Quando se filia a esta entidade, o profissional tem que devolver a carteira se for trabalhar como assessor de imprensa”. Mais adiante, diz sobre o Brasil: “Como os sindicatos congregam sob um mesmo código os profissionais das duas áreas tendem a ocultar os conflitos entre os dois campos”. E sugere que sejam feitos códigos de ética distintos. Os repórteres brasileiros vivem um dilema: submeter-se às regras dos assessores de imprensa ou criar entidades que defendam a sua atividade profissional.

Um bom conselho

Um bom conselho

Quando o Olavo de Carvalho é contra, eu começo a pensar que algo de bom há. E quando o Ali Kamel ou a Helena Chagas corroboram com as idéias do Olavo é que tenho a certeza. O CFJ pode estar sendo mal escrito, mas que é uma boa idéia. Ah, isso é.

13 de ago. de 2004

CONVOCAÇÃO Conselho Federal de Jornalismo

..::.::-----CONVOCAÇÃO-----::.::..

Debate sobre o Conselho Federal de Jornalismo

Botando os pingos nos is

A mídia brasileira perdeu, nos últimos dias, uma excelente oportunidade de mostrar seu apreço pela liberdade de imprensa e de expressão. Ao noticiar o projeto de criação do Conselho Federal de Jornalismo, a maioria dos grandes jornais e revistas foi absolutamente parcial. Textos que deveriam estar nos editoriais e não no noticiário recorreram paradoxalmente ao princípio sagrado da pluralidade e da liberdade de imprensa para desprezar o contraditório e o rico debate que o projeto abre no Jornalismo brasileiro. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro protesta contra a desonestidade intelectual que tem pautado as reportagens sobre o tema e convoca seus associados para reiniciar um grande debate sobre o Conselho Federal de Jornalismo no próximo dia 21, sábado, a partir das 10 h, na nossa sede (Rua Evaristo da Veiga, 16/17º andar).

Sem prejuízo do debate, e sem desmerecer os que já se consideram suficientemente bem informados para combater a proposta de criação do CFJ, o sindicato se sente no dever de esclarecer pontos fundamentais que a grande imprensa, em sua batalha incansável contra as medidas de regulamentação profissional, tem ocultado ou aos quais não tem dado o justo destaque.

As notícias apresentam o projeto do CFJ como uma ação do governo federal inserida em uma saga ditatorial que teria começado com a Lei da Mordaça, a qual abominamos, passado pela tentativa destrambelhada de expulsar um correspondente estrangeiro, à qual fizemos as mais duras críticas, e culminado com a reação do presidente e alguns ministros às investigações sobre o presidente do Banco Central, pelo qual não nutrimos qualquer simpatia. Ou seja, na ânsia de combater o CFJ, a imprensa exercitou sua habilidade em misturar alhos com bugalhos e jogou na conta de um suposto projeto de autoritarismo petista uma proposta que os 31 sindicatos de jornalistas filiados à Federação Nacional dos Jornalistas começaram a formular antes mesmo da Assembléia Nacional Constituinte, de 1988. Naquela ocasião, o debate começou a despontar na categoria por iniciativa dos profissionais de São Paulo no âmbito de sua entidade mais representativa, o sindicato. A discussão só ganharia vulto nacional quase uma década depois, no Congresso Nacional dos Jornalistas de 1996, em Porto Alegre.

Mesmo correndo o risco inerente a qualquer simplificação, podemos tentar resumir o pensamento dos primeiros defensores de um conselho ou uma ordem, nos moldes da Ordem dos Advogados do Brasil ou dos conselhos federais de Medicina, Engenharia e Economia. Muito antes da violenta onda de precarização do nosso mercado de trabalho, com a “brilhante” idéia das terceirizações em massa para burlar as leis trabalhistas, e dos ataques contundentes à exigência do diploma para o exercício da profissão, os precursores do Conselho, ou da Ordem dos Jornalistas do Brasil, sustentavam que os jornalistas brasileiros careciam de um instrumento eficaz para fazer frente às desregulamentações. Um instrumento que também tivesse força para defender a dignidade dos profissionais honestos contra as práticas nefastas daquela parcela irresponsável da imprensa que usa seu poder para se locupletar de favores ou achacar as vítimas das denúncias negociando silêncios e ameaçando com investigações dirigidas. Todo jornalista experiente sabe do que estamos falando.

Naquela ocasião o projeto, como agora, suscitou naturalmente reações contrárias entre os próprios sindicatos e dirigentes da Fenaj. Em qualquer debate deste gênero no mundo é natural algum nível de tensão entre as liberdades públicas e a proteção dos direitos individuais, ambos princípios universais da democracia e, no caso do Brasil, expressos na Constituição. A justificada preocupação com possíveis cerceamentos também foi levantada pelos sindicalistas em diversos debates. Mas o movimento sindical não se deixou intimidar pelos tabus, interessado que estava em prosseguir na luta contra a esculhambação dos patrões em relação à regulamentação profissional.

Não se pode esquecer que o Conselho representa um risco evidente de enfraquecimento dos sindicatos e da própria Fenaj. As profissões que conseguiram se auto-regular através de conselhos independentes não têm sindicatos tão fortes e representativos. A OAB, para ficarmos no exemplo mais conhecido, é muito mais poderosa do que qualquer sindicato de advogados. O mesmo acontece com os médicos, engenheiros, arquitetos, psicólogos etc. Foi preciso muito debate em todos os sindicatos e mais alguns congressos nacionais de jornalistas até que a categoria chegasse à conclusão de que a criação do Conselho apresentava mais vantagens para a valorização da profissão do que riscos à liberdade de imprensa ou ao próprio movimento sindical. A proposta de criação do CFJ não foi encaminhada pela Fenaj ao PT ou ao governo Lula, mas ao governo Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, em setembro de 2002. Pelo simples fato de que, pela Constituição, cabe exclusivamente ao Poder Executivo Federal a prerrogativa de propor a criação de uma autarquia. Isso não significa que a OAB ou o Conselho dos médicos seja controlado pelo governo. Muito pelo contrário. Quantas foram as ações que a OAB impetrou contra ditadores de plantão e medidas açodadas ou ilegais do governo? O incômodo dos patrões na comparação com a OAB está em outro plano. Por exemplo: alguém imagina um estagiário de Direito atuando como profissional junto aos tribunais? Ou um grande escritório de advocacia que demita os profissionais e contrate não diplomados, como acontece cada vez mais nas redações?
A idéia era exatamente a de que a regulamentação do exercício profissional ficasse a cargo de uma entidade independente dos patrões e do governo. Essa autarquia, o Conselho Federal de Jornalismo, seria muito mais independente do governo do que a instância que hoje toma decisões sobre a concessão ou não de registros profissionais, que é o Ministério do Trabalho sujeito sempre às influências das correntes político-partidárias que dominam suas seções regionais. Os sindicatos que perderam projeção política com a criação do Conselho, não têm instrumentos eficazes para barrar as práticas ilegais da grande parcela do patronato que desconsidera ao bel prazer as leis trabalhistas. Muito menos para exigir a observância de procedimentos éticos mínimos por parte dos jornalistas. Dotar a sociedade de um mecanismo de proteção da informação de qualidade que seja estabelecido por quem entende do assunto - jornalistas profissionais - nos pareceu uma iniciativa muito mais segura do que a simples omissão, o “deixar como está para ver como é que fica” ou, como alegam alguns críticos do projeto, deixar que os leitores e a “lei do mercado” punam as más publicações e os jornalistas antiéticos (ou não-jornalistas). Defender que o mercado por si só controle os excessos e a falta de honestidade na informação e no exercício profissional é quase como acreditar na lei da selva, em um liberalismo anacrônico saudoso da revolução industrial e seus desrespeitos aos trabalhadores. Na nossa opinião não há postura filosófica mas jurássica do que acreditar apenas no livre mercado para regular as relações trabalhistas.


É verdade que temos a opção de continuar convivendo apenas com o controle dos patrões, das empresas e seus interesses muitas vezes duvidosos. Muitos argumentam que os jornalistas já têm controles demais, como a própria Justiça ou o famigerado entulho autoritário da Lei de Imprensa, um mecanismo que só estimula a indústria de danos morais, que cerceia e amedronta o jornalismo investigativo. São argumentos válidos e que merecem nosso respeito. Inaceitável é desmerecer ou desqualificar a legitimidade dos que preferem ter sua atividade profissional regulada e fiscalizada não apenas pela selvageria, mas por uma categoria organizada, independente, em sua essência comprometida com a pluralidade, a liberdade e a ética.

As críticas ao projeto defendido pelos sindicatos do Brasil inteiro têm dado ênfase apenas à paranóia do cerceamento à liberdade de imprensa e quase nenhuma linha se refere à necessidade de barrar o lamaçal de negociatas e ilegalidades às quais recorrem muitos veículos sob o pretexto de driblar a crise econômica. Não é à toa que a confiança da sociedade na imprensa está abalada. Continuar encarando esse comportamento como algo natural e inerente à liberdade de imprensa equivale a justificar a atitude de um policial que se vende ao crime porque ganha salários injustos. Onde estão as análises da mídia sobre o fenômeno da corrupção na imprensa e o desrespeito à cláusula de consciência, práticas que ameaçam muito mais a credibilidade da nossa profissão e a liberdade de expressão do que um conselho profissional?

Carimbar os defensores do Conselho Federal de Jornalismo como uma espécie de nostálgicos das ditaduras, adeptos da censura, governistas inconformados com as críticas, defensores de cassações e perseguições, é um sofisma condenável pela desonestidade intelectual que embute. Os que acreditam na conveniência da criação de um conselho para substituir a lei da selva não apontam os críticos do projeto como pelegos que se alinham aos patrões contra seus próprios sindicatos, nem como corruptos ou caluniadores contumazes amedrontados pela possibilidade de ter suas atividades questionadas como em qualquer outra profissão que lida com o interesse público. Comparar o Conselho Federal de Jornalismo ao DIP de Getúlio Vargas tem sido outra figura de retórica agressiva, pueril e autoritária, pois pega carona na onda de interpretações desrespeitosas que ameaçam impor um pensamento único com a força unânime da grande imprensa. O Conselho não quer uma mídia politicamente controlada, como sugerem alguns dos que caíram de pára-quedas no debate. Mas tampouco nos conformamos com uma mídia descontroladamente entregue a achaques e ilicitudes, sem controle social e sem pluralidade.

O jornalista não se interessa por participar das instâncias coletivas de sua profissão merece todo respeito. Mesmo que as ações sindicais, com as negociações salariais e a assistência jurídica, beneficiem a todos, nenhum profissional tem obrigação de militar no sindicato ou agir pela promoção da coletividade. Mas isso não dá a ninguém o direito de desqualificar os que insistem em se dedicar às causas coletivas. Há muitas pessoas de bem que sacrificam suas vidas pessoais para exigir o cumprimento dos direitos, conquistar vitórias para a categoria e a sociedade. São pessoas bem intencionadas e não apegadas às burocracias ou a esquemas cartoriais, como querem insinuar alguns críticos do Conselho. Comparar os militantes das causas coletivas a censores ou castradores é ofensivo e pouco edificante em debates cruciais como este, para o qual convocamos não só nossos associados, mas todos os interessados.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro foi um dos primeiros a aderir ao movimento iniciado em São Paulo para debater a criação do Conselho Federal, mas em nenhum momento defendemos uma tramitação em regime de urgência do projeto, muito menos sua aprovação sem o esclarecimento da sociedade. Também temos restrições ao texto encaminhado pelo governo, o que não pode ser usado pelo patronato para desqualificar a idéia. Como a tramitação no Congresso só deverá acontecer em 2005, temos tempo para ampliar o debate e nos cercar de todos os cuidados necessários à proteção do sagrado direito de expressão e da liberdade de imprensa. Teremos também oportunidade de incluir entre as atribuições do Conselho instrumentos mais eficazes para coibir os proprietários dos veículos de comunicação que não se sujeitarem às leis e aos preceitos éticos.

O que não podemos é ficar paralisados diante de detalhes aos quais a grande imprensa se agarra para prejudicar o debate. As expressões contidas no projeto podem ser modificadas, nenhuma esperteza semântica pode cercear a liberdade da imprensa. O cerne da questão é outro. E nada tem a ver com a idéia de que uma porção de jornalistas com saudades da ditadura vai se reunir num conselho para ficar lendo os jornais e cassando quem defende esta ou aquela idéia. Isso é simplesmente ridículo. Talvez possamos resumir em três os grandes objetivos do Conselho, que levaram a Fenaj e os 31 sindicatos de jornalistas do Brasil a defenderem sua criação: regular o acesso à profissão de jornalista, fiscalizar o exercício profissional e zelar pelo cumprimento do código de ética. Estamos alinhados com essas três diretrizes. A hipótese de os patrões conseguirem cassar a exigência do diploma na Justiça em uma de suas incansáveis tentativas torna ainda maior a conveniência de termos um conselho para substituir a lei da selva, do patronato ou da burocracia estatal. O sindicato é favorável ao Conselho, mas como instituição radicalmente democrática é evidente que adotará a decisão dos seus associados, naturalmente depois de muitas discussões na instância adequada – não nas páginas de uma imprensa sem compromisso com a imparcialidade e a pluralidade, como ficou flagrante nas notícias sobre o encaminhamento do projeto.

Acreditamos que o bom senso prevalecerá no debate que deve ser travado entre os jornalistas e a sociedade, de preferência longe do rolo compressor de empresários amedrontados pela idéia de uma instância que ameace a continuidade de práticas danosas à qualidade da informação e, aí sim, à liberdade de imprensa.

Compareça ao debate. Sábado, dia 21 de agosto, na sede do seu sindicato, a partir das 10 h.

Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro

10 de ago. de 2004

Citar é preciso, entender não é preciso

Citar é preciso, entender não é preciso
Sérgio Rodrigues - NO MÏNIMO

06.08.2004 Lula não está só. A frase que ele atribuiu esta semana a Chico Buarque em mancada que já nasce clássica – “navegar é preciso, viver não é preciso” – é uma das mais repetidas do Brasil quando se trata de embelezar o discurso com uma leve fumaça de “erudição” segura e testada, do tipo que não deixa ninguém se sentindo ignorante. Talvez perca apenas para os “quinze minutos de fama” de Andy Warhol, a citação preferida de nossa imprensa cultural. Ao contrário desta, porém, tem uma história controversa e quase tão velha quanto a cultura do Ocidente. Lula está em companhia numerosa também quando erra o seu autor.

Verdade que Chico Buarque foi uma originalidade do presidente, mas é comum ouvir que a frase “navegar é preciso, viver não é preciso” saiu da caneta de Caetano Veloso, que de fato a usou no estribilho de “Os argonautas”, bela e intrigante canção de 1969: “O barco, noite no teu tão bonito/ Sorriso solto, perdido/ Horizonte, madrugada”. No entanto, se recuarmos um pouco mais no tempo, encontraremos outro poeta por trás do verso de Caetano: Fernando Pessoa, que numa nota manuscrita publicada postumamente como introdução à sua obra poética – apareceu em livro pela primeira vez em 1960 – diz: “Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: ‘Navegar é preciso; viver não é preciso’. Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma para a casar com o que eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar”.


Foi até aí que chegou “O Globo” ao apontar o erro de Lula na edição de ontem, dia 5. O verso, segundo o jornal, não seria de Chico mas do homem dos heterônimos. Uma meia verdade que, além de não levar em conta que o texto do poeta português sequer foi escrito em versos, ignora que Pessoa situa explicitamente a frase no passado, embora com alguma imprecisão – quem seriam aqueles “navegadores antigos”? Seguindo um pouco mais longe nessa rota, vamos encontrar o verso que Lula atribui a Chico – e outros a Caetano ou Pessoa – cumprindo o glorioso papel de lema da Escola de Sagres, o centro intelectual de onde partiram as grandes navegações portuguesas. Fim da viagem?
Não tão depressa. Navegar ainda é preciso, e a todo pano, para chegar até a Antiguidade tardia em que Plutarco, o filósofo e historiador grego, homem do primeiro século da era cristã, escreveu suas “Vidas dos homens ilustres”. É ali, pelo menos em tese, que a frase que não é de Chico – nem de Caetano, nem de Pessoa, nem de D. Henrique – aparece por escrito pela primeira vez. Surge na boca do general grego Pompeu, o Grande, um dos biografados de Plutarco, como exortação a uma tripulação covarde que temia embarcar no navio enquanto grossa tempestade se armava no horizonte. Ou seja: também não foi Plutarco, propriamente, o criador da pérola. Caberia a Pompeu essa autoria? Talvez, mas mesmo assim resta uma dúvida razoável: e se o general, como Lula, também estivesse citando alguém?


Eis, claro, uma questão que não vai mudar os rumos da República, ainda que Lula tivesse bastante a ganhar com a leitura atenta de outro livro de Plutarco, o clássico “Da maneira de distinguir o bajulador do amigo”. Lançado no Brasil pela Martins Fontes – junto com “Como tirar proveito de seus inimigos”, que dá título ao volume – o pequeno tratado moral de Plutarco conta com capítulos sugestivos como Os riscos do amor-próprio, Perigo dos louvores que dão ao vício o nome da virtude, Devemos incluir-nos na crítica que dirigimos aos outros. Leitura altamente recomendável, como se vê – mas essa é outra história.


Por enquanto, que nos baste transformar o episódio menor num grande pretexto para refletir sobre este lema-paráfrase da nossa cultura massificada, fraturada e veloz: citar é preciso, entender não é preciso. Até o “Estado de S. Paulo”, o único dos grandes jornais a informar corretamente a seus leitores que a frase citada por Lula é de Pompeu, tropeça num dos mitos que cercam essa peça de erudição prêt-à-porter ao dizer que Fernando Pessoa explorou a ambigüidade de “preciso” em nossa língua – uma palavra que quer dizer “necessário”, mas também “exato”. Como mostra o trecho ali atrás, a ambigüidade passou longe das intenções do poeta português, embora provavelmente estivesse nos planos de Caetano.
Mesmo assim, o que a frase tem de ambíguo, a possibilidade que oferece de uma leitura alternativa e até certo ponto contrária – navegar é ciência exata, viver não é –, pode ajudar a explicar o sucesso que o “verso do Chico” faz entre nós.

Verdades e mentiras

Verdades e mentiras

O ‘grande’ Ali Kamel gasta um precioso espaço no jornal para mostrar as mentiras de Michael Moore. Ponto por ponto, resolve destruir o filme ‘Farenheit 11 de Setembro’, para mostrar aos jovens a verdade escondida sob a alucinação do cineasta norte-americano que está disposto a acabar com Bush. E Ali Kamel está disposto a apoiar Bush e sua política internacional.

Desde o início da guerra no Iraque que o Kamel resolveu ser o Nicholas Kristof brasileiro e ser o baluarte brasileiro da guerra contra o terror. Utilizando de sua origem – Kamel demonstra parentesco árabe – narrou a história da nação árabe, seu surgimento e suas divisões tribais. Depois enveredou por um caminho sem volta de apoiar a guerra e suas conseqüências.

Agora volta suas baterias contra o escandalizante documentário de Michael Moore, assim como faz os conservadores norte-americanos que impediram sua distribuição pelo grupo Disney nos EUA e boicotavam os cinemas que resolvessem exibi-lo.

O pior é que o jornalista Ali Kamel cita ter pesquisado na internet e em jornais americanos, mas não deve ter feito tão bem seus deveres de casa. Ele cita que é mentira dizer que o regime Talibã nunca teve contatos com uma empresa texana, Unocal, para a construção de um gasoduto. Porém, numa rápida pesquisa, se pode constatar que a BBC reportou planos do Afeganistão de construir um gasoduto de 2 bilhões de dólares de investimento e que a Unocal era uma das empresas consorciadas, apesar da empresa oficialmente negar. Ou seja, monsieur Moore não se baseou só no Le Monde (http://news.bbc.co.uk/1/hi/business/1984459.stm)...

O jornalista?, fala, depois, que a invasão do Afeganistão foi feita sem aval da ONU e que depois de provada a culpa do regime talibã em apoiar Bin Laden e suas loucuras, o mundo rendeu-lhe homenagens. E que fez o mesmo com o Iraque, a diferença é que não acharam provas contra Saddam de armas em massa, pois se assim o fosse, o Bush seria novamente ‘herói’. A diferença é que não acharam e Bush se torna um louco, um maníaco por ajudar seus petrolíferos e bélicos amigos.

E assim segue ao dizer que as tv’s norte-americanas não mostraram os horrores da guerra seguindo a mesma postura que as levaram a não exibir as atrocidades das duas torres. Mas ele se esquece de que as tv’s não exibiram seguindo uma postura de não abalar o prestígio das tropas, afinal desde a guerra do Vietnã que o exército americano não vê com bons olhos a liberdade da imprensa de mostrar seus erros.

Mas nem tudo é errado. Ele acerta ao dizer que o Iraque é hoje um front central da geopolítica norte-americana para o Oriente Médio. Um entreposto com enormes reservas de petróleo e água, as maiores riquezas que existem naquelas terras. A política norte-americana é nociva para o mundo. Se o mundo consumisse como os EUA, seria necessário quatro planetas para dar vazão à todo este impulso. E se quisermos entender o porquê do ódio contra os norte-americanos, temos que entender este funcionamento da máquina econômica mundial que mata de fome, de desesperança, naufragando nações, exterminando populações. Mas como vivemos tempos em que muita gente está cega e surda. Não quer ouvir nem ver a ameaça que nos cerca.

3 de ago. de 2004

A flecha e o arco

A flecha e o arco

O Tarmal Pereira escreveu hoje que a denúncia contra o Casseb partiu de governistas, de petistas enfurecidos que querem a mudança da política econômica. Agora pergutem da ligação do Unibanco contra o Dirigente e aí você chegará ao arco da flecha disparada.

O pior é o colunista escrever que 'líderes esclarecidos do PSDB e do PFL' têm temor de utilizar fogo pesado contra a política econômica, por temer as suas consequências.

Será que em 2002 ele passeava pelo Egito e não viu o que aconteceu no Brasil?

Andrea Henrique, monografia Portugal

Cara Andrea,
recebi o teu e-mail, tentei mandar-te uma resposta, mas a mensagem voltava com o desagradável título "Undelivered Mail Returned to Sender".

Peço que encaminhe-me outro e-mail para que possa te ajudar com sua pesquisa.

abs
Diogo