26 de abr. de 2002

Da série Direita e esquerda ainda existem?

Tratarei do tema abordado brilhantemente por Norberto Bobbio no livro Direita e Esquerda - Razões e significados de uma distinção política.



pag 17

"...num sistema democrático, a alternância entre governos de direita e de esquerda é possível e legítima. Além do mais, definir a esquerda mediante a não-violência leva à necessidade de identificar a direita com o governo da violência, o que é específico, conforme a outra grande dicotomia que cruzo com a dicotomia direita-esquerda, da extrema direita, não da direita genericamente entendida.
Também não me parece convincente a figuração da esquerda como a posição que tende à criação de sociedades abertas contra as sociedades fechadas, que expelem os diversos. As sociedades abertas vivem e se expandem no interior das estruturas institucionais dos regimes democráticos. Não preciso sublinhar a importância do livro sobre a sociedade aberta de um dos mais conhecidos teóricos da democracia, Karl Popper. É verdade, porém, que um governo de direita, embora respeitando as regras da democracia, consente ou promove uma política menos igualitária, como Fernando Savater admitiu ao se referir ao novo prefeito de Madri, do Partido popular, que diante dos problemas de um grupo de imigrantes comentou: "Podiam muito bem estar na casa deles".

Gostaria de citar ainda um clássico contemporâneo do liberalismo, Isaiah Berlin, que considera de esquerda o liberalismoque se opõe ao excessivo poder da autoridade fundada sobre a força da tradição, na qual identifica a principal característica das direitas. Ao mesmo tempo, Berlin também sustenta que o regime autoritário da União Soviética tornou imprestável o uso da distinção entre direita e esquerda, ao usurpar a palavra esquerda".

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