6 de nov. de 2003

Globo e Faustão condenados

Eliakim Araújo (*)

Fonte: Direto da Redação


A TV Globo e Fausto Silva, o Faustão, acabam de ser condenados em ação de indenização movida por Ivalino Raymundo da Silva, um operador de câmera que durante alguns anos trabalhou no Domingão do Faustão. A notícia está no excelente portal Espaço Vital, destinado ao mundo jurídico.

Ivalino, apelidado Gaúcho, ficou famoso nacionalmente ao aparecer todos os domingos na tela da Globo. Durante muitos anos, enquanto Faustão gozava o funcionário, outras câmeras focalizavam Gaucho em sua posição de trabalho, obrigado a engolir as brincadeiras e chacotas do apresentador. Sentindo-se ofendido, Gaucho entrou na Justiça cobrando indenização por danos morais e materiais.

Depois de perder nas instâncias estaduais do Rio de Janeiro, a Globo recorreu ao Supremo Tribunal que decidiu em favor de Gaúcho, condenando a emissora e o apresentador a indenizarem o funcionário em quantia equivalente a 150 salários mínimos. Um valor relativamente pequeno, mas que levou a Globo a brigar até o fim para evitar o precedente que pode trazer em seu rastro um punhado de outras reclamações.

Corretíssima, a meu ver, a decisão da Justiça. O Gaúcho, funcionário humilde de um programa de luxo que deve render alguns milhões de reais à emissora, acumulou durante muito tempo as funções de câmera e de atração do programa. Como câmera, recebeu mensalmente o salário que lhe era devido. Entretanto, como atração dominical do Domingão do Faustão não recebia nenhum centavo. Além de ficar exposto a brincadeiras do apresentador, incluídas aí algumas inocentes e outras de mau gosto. Nunca lhe foi perguntado se aceitava participar naquela situação. A inciativa partiu do apresentador e da produção do programa.

É claro que, num programa ao vivo, uma ou outra referência a funcionário que atua atrás das câmeras, não daria ensejo à cobrança indenizatória. É até simpático que a TV mostre vez por outra aquelas pessoas mais humildes, os técnicos, que ganham pequenos salários e prestam um grande serviço. Sem eles, muitos “gênios” da TV não teriam sucesso.

Mas, no caso do Gaúcho, a referência virou um hábito e transformou-se em atração do programa. Com isso, ele passou a ter direito a uma indenização material, pelo serviço prestado. E as gozações que passaram do limite, transformaram-no em vítima, deixando-o numa posição vexatória diante dos telespectadores. Nesse caso, é justa a indenização moral.

Depois do que aconteceu recentemente no programa do Gugu, quando a ética foi mandada pro espaço e o telespectador desrespeitado em seu direito à informação verdadeira, é bom que as pessoas que se sintam ofendidas recorram à Justiça na busca de seus direitos.

Antes que os patrulheiros de plantão venham a se manifestar, quero deixar claro que não estou aqui defendendo nenhum tipo de censura aos veículos de comunicação. Meu protesto é contra a desigualdade de forças. De um lado, jornalistas, colunistas e apresentadores, despreparados alguns, debochados outros, que se prevalecem da força do veículo que têm nas mãos para inventar, achincalhar e humilhar seres humanos, muitas vezes destruindo-lhes a honra (vide o célebre caso da Escola Base). De outro, a vítima, que não dispõe do mesmo espaço na mídia para se defender.

Nesses casos, Justiça neles.

(*) Foi noticiarista da Radio Jornal do Brasil, Âncora dos Jornais da Globo, da Manchete e do SBT. Ancorou o primeiro canal internacional de notícias em língua portuguesa. Vive em Miami, onde tem uma produtora de jornalismo e publicidade. É diretor de redação do site Direto da Redação.

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