6 de nov. de 2003

O Quilombo dos Palmares


Quilombo Etípiope Ocidental, gravura de 1732

Antigamente, os negros fugidos do cativeiro eram chamados de quilombolas e o conglomerado de suas taperas escondidas na mata – o quilombo.
No Brasil daqueles tempos, mesmo na Bahia e em Minas Gerais, havia muitos quilombos, mas o quilombo dos Palmares (o núcleo fundado pelos guinés e transformado, depois, em grande nação governada pela vontade suprema de um Rei negro) foi o mais importante de todos.

Composto de uma s´perie de aldeias localizadas com estratégias e ligadas entre si por uma rede de caminhos ocultos na floresta, Palmares atravessou todo o século XVII e chegou a abrigar, de uma só vez, alguns milhares de negros encandeados pelos ásperos rumos de Liberdade.

Em 1630, a contar da trágica madrugada que foi a de sexta-feira, do dia 15 de fevereiro, quando os holandeses começaram a invadir Pernambuco, monopolizando os cuidados do Governo Colonial, Palmares partiu para seu auge de expansão e progresso. Então, alastrou-se em outras aldeias cada vez mais distantes (Andalaquituxe, - a capital – Arotirene, Dambrabanga, Subupira, aldeia militar, Osenga, Macacos...) e derramou seus domínios pela vertente oeste da serra sagrada, em direção às margens do rio São Francisco, boas de peixe, boas de encostas para o inhame, para a mandioca.

As aldeias formadas por tugúrios sumários de palha-catolé, sem rótulas ou janelas, mas sempre voltados para o nascente, eram fortificadas com altas cercas de pau-a-pique e, via de regra, circundadas por toda sorte de armadilhas defensivas, inclusive estrepes.

Até 1632 ou 1635, os guinés, inteligentes e anárquicos, não permitiram que o destino do quilombo estivesse entregue a um governo constituído: aquele mundo de léguas de agreste, sertão e matas era igualmente possessão de quem e de quantos necessitassem ocultar o escravizado corpo a algum senhor perverso como eram os senhores numa época em que negro representava apenas peça comprada, sem qualquer outro sentido além do material.

Fio então que, no outeiro sagrado da Liberdade, apareceu, como simples quilombola, um Rei banto.

O Rei trazia o nome africano de Zambi e principiou por usurpar o poder dentro da mais crua violência. Logo, mandou sacrificar os despreocupados guinés e fundou sua dinastia divinizada no sangue e na luta, só extinta no dia 7 de fevereiro de 1694, um domingo, com a morte um tanto lendária de seu sucessor, o fabuloso Zumbi.

Zambi é o nome próprio usado pela nobreza das nações iorubas, mas Zumbi, escrito com U, foi o atributo dado pelo povo palmarino a seu último e destemidíssimo régulo.

Zumbi significa, em quimbundo, o mais poderoso dos gênios do mal, uma espécie de diabo roxo, irmão e dono de Calunga (o Mar).

Esse cativeiro fraterno era a presença da escravidão como triste constante na vida dos negros vendidos, ainda em suas terras, por sobas, pretos também.

Palmares foi uma exceção magnífica, um fruto sublime da sede de libertação que, a par do banzo mortal, atacava os negros mais nobres entregues às contingências do cativeiro, apenas aportados ao Brasil, Cuba e, ocasionalmente, a outros países americanos.

Fonte: Ganga-Zumba, de João felício dos Santos - Ed Ediouro

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