3 de jul. de 2002

Vamos falar de violência


Extraio trecho do livro de Jurandir Freire 'A Ética e o Espelho da Cultura'
pg.64 Nesse momento ele fala sobre a razão cínica e a consequência da cassação dos ideais da classe média.

'É bom lembrar que ela sempre foi o colchão de ar entre as elites e os excluídos, uma guardiã da moralidade, em cima da qual se incutia e germinava a ética do trabalho, do respeito, da moralidade, do bom comportamento, que a elite nunca teve e que os despossuidos nunca precisaram ter.'


Mais para a frente ele disserta sobre o quadro de violência no Rio.

'Diante de uma sociedade em degradação, o egodelinquente, fruto do pânico narcísico, tem a tendência de manifestar-se de duas maneiras: ou como absolutamente impotente, ou como onipotente. quando impotente, ele se traveste no modelo da subserviência burocrática, onde a regra é a obediência devida, qualquer lei é lei, autoridade e autoritarismo são indissociáveis e o que move é o medo.
Na outra ponta, encontramos a arrogância onipotente que tem a desobediência à lei como lei. Desse lado estão o marginal que não vacila em matar alguém por um relógio de plástico ou um par de tênis, o cidadão que estaciona em fila tripla, paralisando o trânsito de toda uma rua só para apanhar seu filho na escola, o político ladrão e o empresário fraudulento. Engravatado ou descamisado, o delinquente arrogante considera-se acima da lei e desafia a todos os que não querem transforma-se em apêndice de sua onipotência.'

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