10 de mar. de 2003

Editorial do Jornal do Commercio de domingo

Não à guerra
O mundo diz não à guerra. Os milhões de pessoas que lotaram ruas e praças de mais de 600 cidades do planeta no dia 15 de fevereiro deram a maior demonstração de pacifismo da história da humanidade. Em Londres, Paris, Roma, Nova York, Berlim, Tóquio e Rio, gentes de todas as raças, credos e ideologias deram-se as mãos num eloqüente e inequívoco recado aos governantes: a guerra não é, nem pode ser, alternativa para a solução de conflitos.

O mundo deixou claro que não quer uma polícia para o mundo. Gritou aos quatro cantos que recusa a destruição da convivência internacional duramente conquistada no pós-guerra. Reafirmou que precisa mais de iniciativas como o Protocolo de Kyoto e do Tribunal Penal Internacional (ambas repudiadas por Washington) e de figuras como Abraham Lincoln, Martin Luther King, Madre Teresa de Calcutá e Mahatma Gandhi. E menos de George Bush e Saddam Hussein.

O mundo deu provas de repúdio ao massacre no Iraque por quatro motivos. Um: a fragilidade das razões alegadas. Bagdá está de joelhos. Atendeu às exigências da ONU e abriu o território às inspeções internacionais. Provou que não põe em risco a paz. Dois: suspeitas de que o verdadeiro motivo do ataque seja a cobiça pelo petróleo iraquiano e a necessidade de desovar e renovar arsenais. Três: a desmoralização das Nações Unidas, único foro capaz de conferir legitimidade a iniciativas conjuntas. O último, mas não menos importante: o medo das conseqüências.

O mundo sabe que os mísseis disparados contra milhões de inocentes abrirão a caixa de Pandora. Dela poderá sair a guerra da Coréia do Norte, pesadelo que traz de volta a ameaça do holocausto nuclear. Dela emergirão mais complicações para o Oriente Médio. Dela disparará fortalecido o terrorismo muçulmano de que o atentado a Báli serve de pálido exemplo.

O mundo, com seu grito uníssono, deixou clara a opção pela paz. Sem rótulos nem adjetivos. Acima de tudo, o mundo não deseja viver sob o regime ditatorial, aterrorizante e dominador da pax americana.

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