10 de mar. de 2003

Plano de paz para o Oriente Médio foi congelado
Caio Blinder, de Nova Iorque

A escalada de vítimas israelenses de atentados terroristas palestinos e de vítimas palestinas de represálias israelenses promete romper novos limites.

Em parte, a espiral de violência deve ser atribuída a uma decisão do governo Bush que chamou pouca atenção nos últimos dias.

A Casa Branca deu uma bofetada (mais uma) nos aliados europeus, na Rússia e na ONU ao congelar os planos de paz para o Oriente Médio.

O chamado “mapa da estrada” tem sido desenhado há quase um ano pelos americanos e essa penca de parceiros.

Concessões

A pedra de toque é uma jornada de três anos que conduziria à criação de um Estado palestino.

Entre os passos recíprocos, os palestinos precisariam dizer adeus de vez à liderança de Yasser Arafat.

Os israelenses concordariam em retirar tropas dos territórios ocupados e em suspender a criação de assentamentos na Cisjordânia e em Gaza.

Claro que a contenção do ciclo de atentados suicidas palestinos e represálias israelenses está prevista no plano.

Contra-mão

Um dos geógrafos mais importantes desse “mapa da estrada” é o primeiro-ministro britânico, Tony Blair.

Há meses, ele tem insistido com Bush que os americanos devem se engajar mais no conflito entre israelenses e palestinos.

Em uma visão compartilhada com o secretário de Estado Colin Powell, Blair tem exortado Bush a intensificar os esforços de paz no Oriente Médio para aplacar tanto o mundo árabe quanto os aliados europeus na crise do Iraque.

Mas a administração Bush decidiu pegar a contra-mão na estrada da paz.

Frente iraquiana

O raciocínio é que, antes de tudo, é preciso acertar as contas no Iraque.

Aí, então, faria sentido pressionar Israel a fazer concessões pela paz. O primeiro-ministro Ariel Sharon seria forçado a se dobrar às exigências geopolíticas americanas.

A lógica americana é de que uma vitória fulminante no Iraque daria uma folgada margem de manobra para Washington impor sua vontade sobre Israel.

Sharon não parece entusiasmado em seguir viagem nessa “estrada da paz”, e a prioridade dos americanos no momento é não irritá-lo na véspera da guerra do Iraque.

Mas diplomatas do Departamento de Estado americano e de capitais européias revelaram ao jornal New York Times que Tony Blair ficou simplesmente enfurecido com a decisão de Bush de congelar a confecção desse “mapa da estrada”.

A defesa da Casa Branca tem dois pontos: é simplesmente improdutivo publicar o “mapa da estrada” quando os israelenses estão ansiosos com a situação na “frente” iraquiana.

Além disso, propor que Arafat saia de cena quando o veterano dirigente acaba de escolher um primeiro-ministro e vai ceder alguns poderes pode se transformar em um tiro pela culatra.

Enfoque errado

Qualquer discussão sobre Oriente Médio é infindável e argumentos tortuosos sobre o “mapa da estrada” são sempre possíveis.

Diplomatas europeus não identificados disseram ao New York Times que seus colegas americanos têm o enfoque errado.

O maior foco de instabilidade no Oriente Médio é a disputa entre israelenses e palestinos e não a situação no Iraque. As prioridades americanas não apenas estão erradas como são perigosas.

Além de Blair, o próprio secretário de Estado Colin Powell saiu derrotado (mais uma vez) com a rota assumida pela Casa Branca.

Mas diplomatas de carreira se mostram resignados. Nos últimos dias, eles vazaram para a imprensa informações sobre o desfecho de um duelo interno.

A administração da política americana para o Oriente Médio foi assumida diretamente pela Casa Branca, onde Elliott Abrams, um ardente advogado dos interesses de Israel, agora, cuida da região no Conselho de Segurança Nacional.

George Bush está impaciente para ir à guerra no Iraque, mas não para fazer a paz entre israelenses e palestinos.

Fonte: BBC Brasil

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