13 de mar. de 2003

O custo da espera
Tropas americanas treinam no Golfo
Caio Blinder, de Nova York

Ir à guerra sem apoio da comunidade internacional é um preço altíssimo mesmo para a hiperpotência americana, mas o presidente George W. Bush gosta de repetir que o custo da inação é ainda maior.

Wall Street parece concordar com o comandante-em-chefe. Nada agonia mais o mercado financeiro do que a
incerteza.

As delongas diplomáticas nas Nações Unidas colocaram a economia americana no purgatório. E, evidentemente, a sensação de paralisia econômica se alastra pelo resto do mundo.

Um preço provocado pelo impasse na crise iraquiana é o desemprego americano. As empresas vacilam em contratar e demitem com firmeza.

Os 308 mil empregos perdidos em fevereiro representam o pior desempenho desde os três meses que se seguiram aos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.

Na verdade, os tambores de guerra no Iraque abafaram os sinais de recuperação da maior economia do mundo.

Semanas atrás havia um consenso em Wall Street de que a guerra seria curta e fulminante, até impulsionando um rally dos indicadores financeiros.

A idéia de um rápido desfecho militar ainda predomina, mas Mark Zandi, analista do grupo Economy.com, adverte que são mais freqüentes agora os cenários pessimistas, até sombrios.

A própria resistência internacional aos planos de Bush prenuncia complicações no pós-guerra. Nada será tão fácil como na primeira guerra do Golfo Pérsico.

Durante a agonia de espera dos combates em 1991, o preço do petróleo disparou a os indicadores financeiros despencaram, mas as nuvens negras se dissiparam rapidamente.

Os paralelos são perigosos porque muito mais está em jogo agora.

Mesmo assim, Wall Street insiste que o custo de não ir à guerra em 2003 segue sendo mais pesado do que o de costurar um precário e bizantino acordo sobre inspeção de armas.

Mais grave do que um clima de incertezas econômicas é a idéia de que recuar agora causará grandes danos à credibilidade imperial.

Outros integrantes do chamado "eixo do mal" vão encarar as ameaças americanas como um blefe. Em breve, o imprevisível lider norte-coreano Kim Jong Il estará chamando a fera americana de tigre de papel.

Este, por exemplo, é o raciocínio do senador democrata (e ex-banqueiro) Jon Corzine. No ano passado, ele votou contra a resolução pró-guerra que foi aprovada pelo Congresso.

Corzine agora bate continência para o comandante-em-chefe George Bush. Para ele, os horrores da guerra são menores do que os riscos de caos global.

Os argumentos mais fortes sobre o custo de inação, é claro, são desferidos pelos superfalcões da administração Bush.

Para eles, já foi um erro em primeiro lugar buscar a benção da ONU para uma invasão do Iraque.

Bush quis ter uma pose multilateral e acabou caindo em uma armadilha multilateral montada basicamente pelos franceses.

Na televisão, os generais de pijama que hoje posam de analistas militares se sucedem para advertir que o "espetáculo" diplomático está minando o moral da tropa americana já estacionada no Kuwait.

E uma das reportagens da edição desta semana da revista "Time" fala dos sentimentos dos soldados que
esperam a guerra: medo e tédio.

Fonte BBC Brasil

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