30 de set. de 2002

Como fazer Terror

Os episódios de hoje no Rio me remeteram à década de 80. Eram novos ares que se respiravam, Sarney era presidente e Godard havia filmado 'Je vous salue Marie'. Dona Marli, primeira-dama, exortou o filme como uma peça a ser proibida de exibição pública. Havíamos saído a pouco de uma censura mais ampla e parte da sociedade foi contra o veto. O então reitor da UFRJ, Horácio, manisfestou-se a favor do filme e telefonemas ameaçadores foram disparados contra a faculdade e suas instalações.

Não preciso relatar que setores de direita já haviam provocados atentados terroristas em nosso território e provocariam depois (CSN em 89), mas que alunos do Cap - UFRJ descobriram um jeito de melindrar as aulas: provocando telefonemas bombas. Eu mesmo paralisei quase uma semana de aula e o procedimento era bem simples: ligar e avisar que tinha bomba naquele antro de esquerdistas despudorados. E pronto, sem aula naquele dia.

Não sei de onde partiu o boato para o quê aconteceu hoje no Rio. Não presenciei nenhum bonde do tráfico e não ouvi explosões. Conversando com um amigo, me foi relatado que não saíria à rua pois fora à Botafogo e a polícia estava por todas as partes armada como se procurasse por algo.

Em alguns governo a polícia na rua significa proteção e em outros fraqueza do estado, coisas da alma humana. Voltemos ao assunto. O episódio hoje do tráfico também me lembrou do arrastão de noventa e pouco onde a população carioca ficou horrorizada com a escalada da violência da época. A informação do caos no Rio foi irradiada para todo o Brasil e o Brasil ficou horrorizado.

Posso até estar sendo precipitado, mas este episódio está cheirando a maracutaia política do alcaide do Rio, o mesmo que teve o prédio metralhado (vulgarmente conhecido como Piranhão), o mesmo que adota o discurso de que a situação está uma vergonha e que estão perplexos. E, ao que parece, somente as escolas municipais que fecharam as portas, porém essa informação não tem respaldo visto que não consegui checar com exatidão.

Criar terror é fácil e nem é preciso muita gente. Basta saber que tipo de informação passar e a quem. E o terror é um ótimo cabo eleitoral, só espero que os veículos de comunicação não mordam tão facilmente a notícia ou que mostrem de vez a que(m) servem.

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