1 de set. de 2002

Um dia sombrio
Começa setembro e o quadro eleitoral continua indefinido. Serra alardeia que chegará ao segundo turno, Ciro diz que esse lugar é dele e o Lula continua invicto com seus trinta e pouco porcentos.

Sento no bar e encontro Boi, um esquerdista da velha guarda, ele se diz maravilhado com a perspectiva, clara, de vitória do PT. Suas razões partem do fato de que o segundo turno se dará com Lula e Ciro e que o governo apoiará o Lula. A explicação parte da leitura de que se o jornal O Globo está a bater tanto no Ciro é porque ele não é a peça a ser escolhida no segundo turno pelos poderosos do Brasil.

Seu pensamento é incompleto porque esquece o fato de que a disputa está sendo travada para saber quem chegará ao segundo turno contra o Lula. Quando começar esta etapa é que saberemos as reais intenções dos poderosos: se apoiarão o Grande Mal (apelido dado pelo Washington Times para o Lula) ou a Grande Incógnita, o Sr. Ciro Gomes, que ora alterna o poder entre os aliados, indo do PPS ao PFL e parando no PDT. Ainda creio que num segundo turno entre estes dois, o governo (PSDB) se porá num `em cima do muro` como no da eleição de 1989 e que, intimamente, favorecerá o Sr. Ciro e PFL a reboque.

Saio do bar preocupado e no caminho para casa vejo a coluna de Márcio Moreira Alves sobre os `perigos dessa vida`. Nele ele alerta para os delírios que a extrema-direita alimenta sobre o Lula: a de que sua ascensão desenharia uma grande conspiração internacional contra os EUA, com Estados Nacionais que patrocinam os terroristas e de regimes radicais.

Aquele texto me lembrou uma aula de `Teoria Política` onde o professor vomita para a turma que os regimes totalitaristas são terroristas, eu interpelei, perguntando se aquela não era uma declaração totalitária. Quase fui agredido pelos alunos, onde um mais exaltado respondeu que o regime bolchevique, o stalinismo, Fidel e Hitler eram todos totalitários e terroristas.

É essa a pérola do pensamento único, todos que não são nossos amigos, são inimigos. Ora, quer coisa mais totalitária que este tipo de pensar? Hoje vendemos às crianças e jovens que o capitalismo é o único regime que dá certo, que todos os outros naufragaram. Vendemos que esse regime dá certo, mesmo com 2/3 da população mundial sendo pobre. Que a distribuição da riqueza se dá de forma tão desigual a ponto de que menos de 10% dos homens deste mundo possuam mais de 70% das riquezas do globo terrestre.

Não se fala de que o valor do dinheiro hoje é muito mais depreciado, de que é um valor especulativo e que por ser especulativo tenderá a estourar, e a conta restará aos mais pobres, que com menos recursos não sobreviverão à escassez de recursos que virá. Primeiro cortam os supérfluos: roupas e eletrodomésticos, depois cortarão luz, telefone e por fim a comida. E lá se vai um país.

Enfim, chego em casa. Descansarei no meu sacro lugar. Fico à penumbra, a taxa é muito elevada. Toca o telefone, é Adriano, um sombrio governista. Vocifera aos meus ouvidos a situação de onde mora. Clima de guerra, a sociedade acuada e um governo fraco no Rio. E manda os petardos contra a Governadora. O engraçado que na época que era o Garotinho, a violência era a mesma, mesma não, pois agora acentuara-se por causa das eleições que se aproximam. Existe um componente do medo utilizado desde os arrastões, que repercute até hoje na `nata` da sociedade carioca que vêem na Benedita a expressão do que seria um governo do povo e influindo pesadamente no cenário eleitoral da dita cidade mais bela.

Tanto que O Globo explora isso como matéria e fala da `cidade proibida` que existe, de locais não mais acessados por ditos bons cidadãos devido a alta periculosidade destes logradouros. Mas, do jeito que é escrito, parece que essa violência por qual sofre o carioca é coisa de um tempo distante que pertenceu a um governo do povo e que parece querer voltar.

A verdade que diante do quadro político no Rio percebemos que os tempos serão sombrios, quase uma idade média. A plataforma que elegerá alguns dos representantes será a da violência para conter a própria violência, do medo generalizado sendo imposto de cima para baixo.

Desligo o telefone. E ainda são quatro da tarde, o quê mais falta?

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