17 de mar. de 2004

Flores

Cultura Brasillis

Cultura, ação de cultivar, um legado que o homem traz consigo desde os tempos imemoriáveis, o legado que o permitiu evoluir, o de poder enfim sentar raízes e abandonar o nomadismo. A necessidade da semeadura permitiu ao homem inventar a roda, a observar os astros e perceber que a natureza abundante à sua volta poderia ser dominada.

O domínio do homem sobre a natureza produziu desequilíbrios que afetaram toda a ordem. Foram períodos de estiagem ou inundações que obrigaram povos a se locomoverem por quilômetros, sem destino certo, à procura de um cantinho. Levaram suas histórias, suas sementes, pois aprenderam que, independente de onde estivessem, bastava semear e cuidar das sementes, de proteger e aguar os brotos, que a planta cresceria, daria sombra e frutos, fortalecendo o seu povo para a vida.

A história do Brasil é análoga à do homem. Passamos pelas fases das cavernas onde o som das flautas de pífano é resquício dos primeiros habitantes desta terra e desenhos hoje se encontram estampados nas pedras do Piauí. Brincamos de amarelinha ou jogamos peteca sem imaginar a quem realmente pertence, os índios. Mesmo assim, a semente plantada há muito, ainda brota.

Durante um tempo, uma página da nossa história foi manchada. Mas pior do que a mancha foi o estigma. Chamaram de década perdida, de vazio cultural, a década de 1970. Um tempo de estiagem, que sufocou todo um povo, levou parte a uma migração forçada e não permitiu que todas as sementes brotassem, fazendo com que algumas morressem. Mas muitas plantas sobreviveram na adversidade e conseguiram crescer.

Muitas artimanhas foram feitas. Chico Buarque para fugir da censura chegou a assinar composições com a alcunha de Julinho da Adelaide. Os jornalistas do Jornal do Brasil tentando avisar aos seus leitores sobre o que estava acontecendo no país depois do dia 13 de dezembro de 1968 (promulgação do AI-5) publicaram na parte referente à previsão do tempo que o tempo estava sufocante e o ar irrespirável. Os asfalto se juntava com o morro e todos cantavam que podiam bater, mas que não mudavam de opinião. Era o show Opinião que impulsionou as carreiras de Zé Kétti, João do Vale, Nara Leão, Maria Bethânia e Caetano Veloso.

Nenhum comentário: