Minha ídala
Não adianta, podem espernear à vontade, mas quando a professora fala, os burros abaixam as orelhas. Sua lucidez é fantástica, qualquer minuto proseando com ela não tem preço. É bem verdade que nem sempre está certa, mas se o teor do papo for política econômica, sai de baixo. Sua metralhadora voltou a sorrir, digo sorrir, afinal as balas que desfere são para o bem do povo e do país que adotou. Cada lágrima jorrada daqueles olhos é pelo fato de conhecer o mal que nos molesta, provêm dos olhos astutos que não se deixam enganar pelas miragens de nossa desértica existência. Amém, professora, amém.
‘Palocci é o verdadeiro Sérgio Motta’, ataca Conceição, criticando o governo
Eliane Oliveira
BRASÍLIA. Enquanto a direção do PT punia os dissidentes em São Paulo, na Câmara a economista petista Maria da Conceição Tavares disparava ontem sua metralhadora giratória no seminário “Novo modelo de desenvolvimento nacional”, promovido por PCdoB e PSB. Ninguém escapou. Ela centrou fogo na reforma da Previdência, chamando-a de “a reforma do medo”, criticou a política de juros altos e a assessoria do ministro da Previdência, Ricardo Berzoini. Cobrou ainda do presidente Lula a implantação do programa de governo com o qual se elegeu. Fumando muito e recorrendo a palavrões, Conceição disse que os servidores públicos estão apavorados e vão correr para se aposentar.
— Uma porrada de funcionários se aposentou com a reforma administrativa e outra porrada com a reforma do Fernando Henrique. Desta vez, o que vai ter de servidor se aposentando não está escrito. Espero que isso não aconteça, senão não teremos máquina para sustentar o Estado — afirmou. — Não adianta dizer que não vai taxar os inativos. Nem que faça propaganda, que apele à Virgem Maria, que vá para a televisão. Todo ministro está sujeito a uma ignorância. Este (Berzoini) também tem uma assessoria de merda, que não vale nada — disse a economista, uma das mais influentes do PT.
Sobre a equipe econômica: “Tem que enquadrar”
Conceição disse que está na hora de Lula se voltar para a agenda que o elegeu: de crescimento e geração de empregos.
— Na época da transição, eu disse ao Palocci (ministro da Fazenda) que os três primeiros meses seriam ferro na boneca. Não me impressionaria se ele se tornasse tão conservador quanto o Malan (Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda). Mas eu combinei: três meses,viu, Palocci? O fato é que tem alguém no Tesouro que é da tesoura e no Banco Central que é do partido do juro alto. Tem que enquadrar esses caras, porra! — disparou.
Ela disse não concordar com a comparação entre o ministro da Casa Civil, José Dirceu, com o falecido ministro das Comunicações, Sérgio Motta, um dos responsáveis pela privatização das empresas de telecomunicações.
— Ele (Palocci) é que é o verdadeiro Sérgio Motta. Além de gordo, tem couro de elefante, agüenta tudo e fica tranqüilo, rindo. O José Dirceu, não. Ele fica tenso.
A economista disse que não há como a equipe econômica falar em taxa de equilíbrio, com os juros em 26,5% ao ano e questionou o fato de o governo manter o câmbio livre.
— Existe uma absoluta unanimidade de que não se pode deixar o câmbio deslizar, deslizar, deslizar. Só quem não pensa assim são os baba-ovos que escreveram a Agenda Perdida — disse ela, referindo-se, entre outros, ao secretário de Política Econômica, Marcos Lisboa, um dos principais assessores de Palocci. — É preciso emprego, emprego e emprego. O país não suporta o desemprego de 20% nas metrópoles. A Alemanha teve isso e gerou os neonazistas.
Ela comparou Lula a um destruidor de bombas. Segundo a economista, foi isso que o presidente fez desde que assumiu.
— Nesses três meses, o governo Lula destruiu muitas bombas, mas não percebeu que, para limpar o terreno, não precisa jogar pedra em cima de pedras que já sufocam o Estado. Está na hora de cumprir a agenda pela qual fomos eleitos.
Até o secretário de Segurança do Rio, Anthony Garotinho, foi criticado:
— Nós não podemos agüentar muito tempo, com ou sem Bolinha, que fez três megaoperações nas principais ruas do Rio, que são uma carnificina.
Mesmo sem citar o nome, a economista também não poupou o ex-ministro Pedro Malan pelo fato de ter aceito a vice-presidência do Conselho de Administração do Unibanco.
— Quando eu era jovem, tinha a teoria de que, aos 20 anos, você quer mudar o mundo. Aos 30 anos, o bicho vai pegar, porque tem o mercado de trabalho. Aos 40, vêm os valores éticos e, se você chegar aos 50, está livre. Estava redondamente enganada. Tem gente que esqueceu a ditadura e chegou à conclusão de que se cansou. Tem gente que me dizia que seria funcionário público a vida inteira e resolveu ser vice-presidente de um banco. Nosso ministro da Fazenda é médico. Ele não precisa dizer esqueça o que eu escrevi, porque não escreveu nada. Agora, se o presidente Lula disser muda, ele muda.
A economista criticou ainda a ignorância da bancada governista sobre as reformas:
— Só sabe fazer pedido para seu distrito. Alguém pediu para saber o que é a reforma da Previdência? Porra nenhuma. Os deputados têm que se informar. Cacarejar é uma merda. Cacarejar é para galinha, e não para deputado.
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