Deputado kuwaitiano compara regimes de Iraque e Israel
Rogério Simões, enviado especial ao Kuwait
A possibilidade de ver Saddam Hussein finalmente fora do poder no Iraque não fez com que os kuwaitianos esquecessem completamente outro grande problema da região: a questão palestina.
Entre os que fazem questão de lembrar o assunto e acusar os Estados Unidos de parcialidade, está o parlamentar Hassan Johar, que em julho tentará um terceiro mandato na Assembléia Nacional do Kuwait.
“Há muitas semelhanças entre o regime de Saddam Hussein e o governo de Israel”, disse Johar, em entrevista à BBC Brasil.
“Ambos ignoram resoluções das Nações Unidas, matam inocentes e ocupam terras estrangeiras.”
EUA “parciais”
Para Hassan Johar, a ocupação por Israel da Cisjordânia e da Faixa de Gaza desde 1967 - o que desrespeita resoluções da ONU - pode ser comparada à invasão do seu país pelas tropas iraquianas em 1990.
“Terras árabes estão sob ocupação, e têm estado por mais de meio século. As grandes potências, lideradas pelos Estados Unidos, olham para a área apenas com um olho, e isso tem irritado muita gente.”
O parlamentar acredita que, depois de uma eventual queda de Saddam Hussein, possivelmente por meio de uma ação militar, os Estados Unidos serão pressionados ainda mais a encontrar uma solução para o conflito entre israelenses e palestinos.
“Os Estados Unidos deveriam ter feito isso há muito tempo, logo depois do fim da União Soviética”, afirmou Hassan Johar.
“Em qualquer lugar do mundo onde houvesse uma ditadura, na África ou na antiga Iugoslávia, a ONU prestou uma grande contribuição. Por que isso não é aplicado ao nosso povo na Palestina?”
A necessidade de uma solução para o problema palestino seria ainda mais um motivo para a comunidade internacional ajudar a derrubar Saddam Hussein, na opinião do ex-ministro do Planejamento do Kuwait Sulaiman Mutawa.
“Nós gostaríamos de ver uma solução para o problema palestino. Mas, com Saddam no poder, se você lê os jornais o assunto não está nem na página 7”, diz.
Influência americana
Apesar das críticas à política de Washington em relação ao conflito israelense-palestino, o parlamentar Hassan Johar diz que é preciso aceitar a influência dos Estados Unidos.
“A influência americana na região, de uma década para cá, é um fato, gostemos ou não. Ela vem também com a globalização, em muitos aspectos.”
Atualmente há mais de 15 mil soldados americanos no Kuwait, que ocupam cerca de 25% do território do país para seus treinamentos.
No caso de uma guerra contra o Iraque, a fronteira kuwaitiana deverá ser a principal porta de entrada dos soldados em uma invasão por terra.
“Nenhum país soberano gosta de ter tropas estrangeiras em seu solo. Mas eu tenho que reconhecer que a presença americana ocorreu de acordo com a lei, de acordo com a nossa Constituição”, disse Johar.
O parlamentar não sabe exatamente quando os americanos sairão do país e admite que a queda de Saddam não levará a uma retirada imediata.
“Nós temos que esperar para ver a natureza do futuro regime que assumiria o Iraque, nós gostaríamos de um regime pluralista.”
“Esperamos que nosso país consiga viver em paz sem a presença de tropas estrangeiras, todo mundo quer isso.”
Extraído da BBC Brasil.
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