Homenagem à D. Zica
Moradora de muito tempo do morro de Mangueira veio a ficar conhecida como a mulher do Divino, apelido de Cartola, alcunha de Angenor de Oliveira. Sua irmã era casada com um dos maiores compositores do morro da estação primeira, Carlos Cachaça e por intermédio destes dois personagens que houve a junção deste belo casal do samba carioca. Tão belo que surgiu um nome, o Zicartola, restaurante do tipo pensão que veio a abrigar os mais conhecidos nomes da cultura carioca, de Hermínio Bello de Carvalho, passando por Paulinho da Viola a até os jornalistas Sérgio Porto (Stanislau Ponte Preta) e Sérgio Cabral.
Dona Zica da Mangueira, assim ficou conhecida Euzébia da Silva de Oliveira, nascida num domingo de carnaval, no bairro da Piedade, subúrbio carioca, ao sexto dia do mês de fevereiro de 1913. Sua mãe, Gertrudes Efigênia dos Santos, lavadeira de profissão e já viúva, a entregou a uma família de posses, como era costume na época, na esperança de um futuro melhor para sua pequena Euzébia. Foi um período de cinzas, já que Dona Mocinha, a quem a guarda de Euzébia foi dada, era uma pessoa violenta. Moravam em Copacabana e a única lembrança boa era a da praia e do bairro que viu surgir. Ia sempre ao morro que aprendera a amar. Casou aos 19 anos e foi morar em Mangueira. Cartola, nesta época, já era casado.
Porém, a vida deles foi de uma infeliz sorte. Se conheciam de menino, dos blocos carnavalescos do morro. Com uma diferença: D. Zica brincava no bloco do Seu Júlio, um bloco familiar; enquanto Cartola ia no bloco dos Arengueiros que o nome já diz a filosofia de seus participantes. Só vieram a desfilar no mesmo bloco quando Cartola fundou a Estação Primeira de Mangueira. Ambos tiveram seus casamentos e ambos se tornaram viúvos. Cartola, tremendamente enamorado se afoga em bebidas para esquecer suas dores. Some de cena e se vai para o Morro da Manilha, no Caju. Um dia, Cartola vai visitar seu compadre Carlos Cachaça e, lá encontra a cunhada de seu amigo e quituteira de mão cheia, e ele jogou aquele papinho, ela também estava à toa, e ficaram juntos até o fim de seus dias.
A paixão dos dois é para ser cantada em verso e prosa e isso Cartola providenciou de tantas músicas que fez para Zica: "As rosas não falam" (nascido de um diálogo em que Zica pergunta porquê são as rosas tão belas e que seu parceiro responde não saber porque elas não falam), "O sol nascerá" (parceria com Elton Medeiros), "Nós Dois" (feita dias antes do casamento de Cartola e Dona Zica), Tive sim (ode ao amor que sentia por Zica).
Estranhos os desígnios da vida, nascera num domingo e se findou na quarta-feira, como um carnaval. De sua vida veio o espetáculo em cores fortes e vibrantes como as cores de Mangueira, do amor e da esperança. Foi embora como um passarinho. Viveu feliz, pois quem vive em Mangueira sabe que hão de chorar quando morrerem os poetas. O alvorecer na verde-rosa ganhou mais uma estrela.
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