10 de jan. de 2003

Para aqueles ainda céticos em relação ao Lula, ou ao seu ministério, segue a reportagem

Conceição recupera poder de influência
Vera Saavedra Durão, Do Rio

Há 14 anos sem entrar no Palácio do Planalto - "desde que o Dilson (Funaro, ministro da Fazenda) foi derrubado e o (José) Sarney indicou o arroz com feijão (Mailson da Nóbrega) nunca mais botei lá os pés" -, a economista Maria da Conceição Tavares voltou a gozar da intimidade do poder no recém-empossado governo Lula.



Militante do PT de carteirinha, ela vem sendo apontada como uma das pessoas de maior influência junto ao primeiro escalão na indicação de nomes para compor áreas estratégicas do governo, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Modesta, garante que não pleiteia cargos e que, no caso da indicação de Carlos Lessa para presidir o banco, apenas agiu como "madrinha" ao apresentá-lo em Brasília, cidade que não freqüentava desde a morte de Ulysses Guimarães.



"Só falei com o Lula sobre o Lessa quando ele (Lula) veio me visitar aqui. Ele queria o Lessa no BNDES e estava muito difícil, pois ele tinha acabado de ser eleito reitor da UFRJ. Lula então mandou um recado por mim para dizer a Lessa que escreveria uma carta do próprio punho para a universidade", contou.



Conceição não nega que é consultada nas escolhas de assessores econômicos, principalmente por ministros da área política, como é o caso de José Dirceu. "Afinal, todos foram meus alunos e funciono como uma assessora da República", conta.



Mas, garante que não escolheu toda a diretoria do BNDES, como se comenta. "No banco havia um consenso de pelo menos 16 nomes de profissionais da casa com 20 anos ou mais que iam ajudar o Lessa. Todos os meninos que vão para lá foram meus alunos, mas foram escolhidos pelo próprio Lessa que comunicou os nomes ao ministro", relatou, admitindo que por seu crivo passou também o nome de Ricardo Carneiro, indicado para presidir o Ipea.



A economista mais famosa do país garante que a maneira de o BNDES operar vai mudar sensivelmente. "O Lessa vai dar importância ao social e a infra-estrutura e vai discutir cadeias produtivas. Isto não quer dizer que não vai financiar as exportações. Quem pode fazer isto é o BNDES. Essa é a disposição dele, que não está lá porque veio de Wall Street para fazer com que o banco tenha um balanço financeiro legal, mas porque é competente, cultíssimo e incorruptível."



A vitória de Lula trouxe de novo alegria para a economista ("como nos tempos da posse do JK"), que nos últimos tempos andou deprimida e doente. "Os últimos oito anos foram muito ruins", admite. "Na transição democrática, juntou todo mundo (a turma de economistas considerados de esquerda antes de 64/68, entre os quais Fernando Henrique Cardoso) lutando contra a ditadura, mas depois alguns resolveram ganhar dinheiro, enquanto outros ficaram na universidade (como ela e Lessa)", relata. Com tristeza, recorda que "não me convidaram para a festa de 50 anos do BNDES e para mim aquele banco é simbólico, estive lá desde 1957, antes de ir para a Cepal".



Satisfeita com a atitude do governo petista de respeito pelos mais velhos formuladores de política econômica como Celso Furtado e o próprio Delfim Neto, conta que ficou satisfeita com a escolha de Delfim para compor o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. "Ele ficou o tempo todo (do governo FHC) contra a política cambial. No regime autoritário, estava em outra banda, mas isto não lhe tira o fato de ser um grande economista", realça.



Ela considera a melhor novidade do novo governo é o fato do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, não ser economista. "Rompeu um tradição que vinha desde a ditadura militar, que ministro da Fazenda tinha de ser economista. Este é um cargo político, onde os conflitos se batem." A primeira visita formal que fez ao ministério foi à Palocci. E lembra que participou com ele da formação do programa de governo do PT durante um ano e meio.



O país, na sua avaliação, entrou nos últimos anos num queda livre histórica, mas agora o interesse central do governo é o Nordeste, a fome, o desenvolvimento, a infra-estrutura, as relações internacionais. "Amadurecemos, reconquistamos a democracia, estou vendo renascer as áreas estratégicas do país e não vou ficar contente?" E revela que está de "alma lavada", pois agora "entramos no reino da política, mesmo nos ministérios onde impera o capital." "Como disse o Palocci na entrevista ao Roda Viva, este governo será tanto melhor quanto menos importância tiver o ministério da Fazenda".

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