O Elefante na Sala
O elefante na sala
De repente, descobre-se que o que houve não foi escândalo, mas um festival de ignorância: ninguém sabia de nada. Silveirinha não sabia que tinha remetido US$ 8,9 milhões para a Suíça, nem que havia lá uma conta em seu nome, muito menos que morava em uma mansão. Garotinho desconhecia que se tratava de um “bandido”, como ele o chama hoje, aquele que gozou de sua confiança durante quatro anos, a ponto de acabar na campanha de Rosinha como assessor econômico, em seguida membro da transição e finalmente presidente do Conselho de Desenvolvimento Industrial do estado.
A imagem é do deputado Carlos Minc: um elefante passeava pela sala e ninguém via. O mais impressionante é que um dia conseguiram fotografar, filmar e gravar o animal, mas ele continuou invisível. Foi o que aconteceu em 1999, quando a Light sofreu uma tentativa de extorsão de R$ 3 milhões para não pagar multa de R$ 50 milhões. Um então diretor da empresa, Edézio Quintal, entregou as fitas de vídeo ao irmão, secretário de Segurança, que as teria passado ao governador. Foram abertos dois inquéritos, que não deram em nada por falta de provas. Acharam que as imagens e a voz do elefante na sala não provavam que havia um elefante na sala.
A governadora está tentando dividir a culpa com as empresas achacadas, alegando que elas foram corruptoras. Parece que só o governo desconhecia que era um esquema de grande porte: a extorsão fiscal consistia numa prática difícil de resistir. Sabe-se de empresas que, por poderosas, enfrentaram as pressões. Mas outras cediam. Entre dar uma propina ou pagar multas devidas ou não, às vezes em dobro ou triplo, dependendo da ganância dos fiscais, elas preferiam viver mais barato e em paz.
Fazer o de sempre é preciso: apuração rigorosa, instauração de inquérito, afastamento dos suspeitos, demissão dos culpados, quebra de sigilo e até a indignação da governadora e do ex-governador. Mas o primeiro escândalo da administração Rosinha só terá algum efeito positivo se o seu desfecho levar não só à prisão dos envolvidos, mas sobretudo à devolução do dinheiro desviado, o que fugiu e o que permaneceu. O contribuinte quer o seu de volta, ainda mais sabendo que os US$ 33,4 milhões são uma simples gorjeta, apenas 10% do total sonegado. Aliás, não pode pairar a suspeita de que toda a sujeira aparecida agora representa também apenas 10% da que ficou escondida.
Luis Fernando Veríssimo
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O Globo fez um erro grotesco no site e publicou o texto do Veríssimo na coluna do Zuenir.
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